Dias desses, me disseram que um escravo teria se queixado do fato de que, tendo sido meu escravo, estava condenado a ninguém mais querê-lo em respeito a mim… Dizia que ninguém quer se relacionar com ele porque já foi meu!

Minha primeira reação foi mandar dizer que me coloco a disposição de qualquer rainha que o queira para  mostrar de forma clara que não temos mais nada e que, sim, ele é livre para se relacionar com quem quiser.

E até avisá-lo de que com certeza não está olhando direito porque , ok, modéstia às favas, só de pensar aqui por alguns minutos já lembro de algumas que arrastam um bonde para ter algo com um escravo meu.  São vinte anos de jornada. Alguma coisa a gente vai aprendendo sobre os pares.

Alem disso, ele nunca ficou isolado. Nunca parou de flertar com outras Dommes mesmo quando estava comigo. Talvez muito mais isso as coloque um pé atrás, não?

E fiquei pensando. Que raios! O que ele espera? Desviver o que vivemos?

Só se for isso, porque eu não falo mal de ex-escravo, não saio por ai queimando o filme de ninguém. Mesmo quando eu menciono pessoas no meu blog, o faço com autorização expressa. Faço muita questão mesmo que autorizem. Deixo totalmente à vontade nesse sentido. E quando é uma crítica nem menciono nome algum.

Fato que sou ciumenta, apaixonada, louca. Hum rum. Mas sou ciumenta do que me pertence. Enquanto me pertence. Não me pertencendo já não seria ciúme, seria inveja.
E, poutz, que feia eu seria!

Aí fui pensando na arrumação e foi me dando raiva.  Quanta pretensão, né?  Como se alguém fosse roubá-lo de mim. Não estariam me roubando nada.  Não existe mais nada. Não me pertence.

E eu que fui embora tocar minha vida, que não levo bagagem, que tô nem aí pra história alheia passando de repente por uma pessoa ressentida. Ah, para!

Eu luto pelas relações. Já vivi o bastante para saber que relações e boas histórias têm muito de ceder, perdoar. Gosto de perdoar. Acho que é um lindo exercício de soberania. Eu batalho muito pra que uma relação dê certo, pela continuidade, pela construção através dos erros, repensando sempre. Porque as pessoas se iludem com a ideia de que bons relacionamentos já nascem pronto. Não! É construção.

Muita gente fala de mim e do Roger que tivemos sorte. Talvez alguma sorte nos encontrarmos um ao outro em meio a tantas pessoas que passam por nossas vidas todos os dias. Alguma sorte. E só lá bem no comecinho. O resto, meu amores: construção! Tijolo por tijolo. Decisão íntima de permanecermos juntos.

Com esse tal menino vivi umas coisas muito legais. Perdoei a primeira mancada, a segunda e outra. Eu queria ter ficado com ele, mas ele não parou nunca de pisar na bola. Aí não deu mais. Não é ele estar ou não estar com outra domme. Pode ser até que com outra ele mude. Pode ser. Fato é que não muda nada pra mim. Comigo não deu certo e ele nunca mais terá outra chance. Porque foram 3 grandes chances! Então, o que ele vai fazer da vida dele, a mim pouco importa.

Não me fez mal, não foi sacana, não levou nada de mim. Ao contrário, sempre pude contar com ele quando precisei de qualquer ajuda (embora já esteja começando a me dar nojo! ) Não é a pessoa dele o problema. É o que ele sente por mim. Ou melhor, o que ele não sente.

Eu já disse aqui que o que alimenta o meu tesão, o meu amor, o meu desejo por um escravo é o amor dele, o desejo dele, o tesão dele. Eu quero isso. Quero que ele me deseje forte. Que lute por mim. Que seja capaz de saltar abismos por mim. Não existe pra mim “mais ou menos”  e não aceito migalhas. Tem que ser todo. Tem que ser meu.

E ele não estava sendo.

Ponto.

Desde aí não me interessa mais pra onde ele vai, com quem vai, se vai…
Bora ser feliz. Outra aventura. Outros mundos.

Que saco!

* * *
Mas vou aproveitar a oportunidade para postar essa crônica do Rubem Alves que eu gosto muito e fala muito de mim, de como me sinto diante da vida. E que pena que a pessoa me conheça tão pouco.

Quero só viver coisas boas que já não tenho mais tanto tempo…

O tempo e as jabuticabas

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho mais passado do que futuro…
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas…
As primeiras, ele chupou displicente… mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço…

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades…
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis…
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que,
apesar da idade cronológica, são imaturas…

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral… As pessoas não debatem conteúdos… apenas os rótulos…

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos…
quero a essência… minha alma tem pressa…

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços…
não se encanta com triunfos…
não se considera eleita antes da hora…
não foge de sua mortalidade..

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade…

O essencial faz a vida valer a pena…
e para mim basta o essencial…