Terminei finalmente de ler “50 tons de cinza” e confesso que estou surpresa que tenha sido tão bem sucedido a despeito de outros títulos sobre o mesmo tema.
Os trechos em que há narrativas de encontros sensuais são de fato excitantes e é uma sorte que eles estejam bem espalhados durante a leitura de forma que ela não se torne tão tediosa.
Mas é um romance quase bucólico entre um homem super-hiper-bem sucedido e uma jovem insegura, tímida, pobre e.. Virgem!! Praticamente uma gata borralheira que encontrou o príncipe!!
Christian é um príncipe tão perfeito que até eu que sou dominadora me submeteria. Imagine um homem do tipo “tudo de bom mesmo”: ele é lindo, generoso, educado, rico (rico! muito rico mesmo!), poderoso, culto e… me faltam adjetivos! . Então, esse homem, dentro de um cenário fantástico e tão perfeito quanto ele próprio, surge diante da mocinha desavisada e carente. Penso que uma relação de dominação seria quase inevitável dentro desse contexto.
A autora porém estava determinada a escrever um romance BDSM e reserva vários capítulos para demonstrar que a relação será consensual como ditam as normas do Sadomasoquismo Saudável.
Há de fato uma negociação e Ana é conscientizada sobre a necessidade de conhecer seus próprios limites com espaço para falar sobre eles tranquilamente. Um pouco tarde para pedir a ela que decida sem envolvimento. Ela já está envolvida e já se sabe que não tem mais volta.
E segue com cenas bem picantes para quem gosta de transas quentes e práticas de controle e spanking. Cenas essas que também podem ser encontradas em Falsa Submissão, A Secretária, História de O e tantos outros. Isso para nem mencionar os contos eróticos muito mais excitantes disponíveis na Internet.
As cenas ficam um pouco chatas por causa do enredo romântico que as acompanha. Um dominador atormentado com sérios problemas de afeto, uma deusa interior que ninguém entende a que veio e uma mocinha eternamente adormecida…
Além de achar o livro muito chato e quase não conseguir ler até o final, duas coisas me incomodaram demais: a ideia de que é preciso que o Dominador seja o superman e a submissa uma débil romântica para que o jogo aconteça. Isso me irrita profundamente. BDSM é um jogo e acontece quando existem afinidades. Posso por amor ceder uma ou duas vezes mas isso não fará de mim uma submissa ou uma masoquista. E posso seduzir meu parceiro e colocá-lo aos meus pés, mas isso também não fará dele um submisso. Para ser um submisso no jogo BDSM é preciso que ele queira e que esteja consciente desse querer. Os papéis são escolhidos livremente.
A outra coisa que acho irritante é a história do sujeito ser “perturbado por fantasmas do passado” e ter problemas em dar afeto. Ó, seguinte: nós já temos nossos próprios doidos. Não precisamos de publicidade para que outros doidos nos procurem. Não somos todos um poço de equilíbrio, é fato até porque somos humanos, mas essa ideia de que a maioria dos praticantes de BDSM sofreu abuso ou de que dominador bom é aquele que não sabe/não quer/não pode dar afeto, já foi ultrapassada, né?
Não li a obra mas a sua crítica me pareceu um raio-x hipersensato (e com colocações com as quais concordo sem tirar uma vírgula). Talvez sequer venha a ler 50 Tons. A idéia da submissão feminina simplesmente me abomina. 😉
CurtirCurtir
Que bom, Romero : )
Bom que gostou e bom que não gosta de submissão feminina !!
CurtirCurtir
Tinha muita curiosidade de ler esse livro,mas após sua análise abalizada,conhecedora do assunto, poupou-me de perder meu tempo.Qualquer submissão,feminina ou masculina, em minha opinião, tem que ser muito consciente,um ” jogo” prazeroso para os participantes.
Obrigado!
CurtirCurtir
Pois é… Muitas pessoas comentaram comigo que o livro presta um favor à comunidade porque mostra um pouco da gente e tal. Mas eu me pergunto se é uma boa porta de entrada. A menina mal iniciou uma vida sexual como poderia conhecer seus limites? Como consentir sem conhecer? Não percebo mesmo de que forma isso pode falar sobre nós…
CurtirCurtir
Acho que de maneira alguma retrata nosso pensamento,pessoas que não conhecem o tema terão ,infelizmente, uma idéia distorcida,uma pessoa aproveitando-se da fragilidade da outra,que no decorrer poderá até gostar,porém sem saber seus limites, e possíveis consequencias futuras.
CurtirCurtir
Parabéns pelo enfoque, realmente não é porta de entrada para o assunto bem como para iniciantes…VIVA A SUPREMACIA FEMININA
CurtirCurtir
Obrigada, Ana : )
CurtirCurtir
Estamos à tua disposição. Em tempo teu e-mail está voltando (via libido) gratas!
CurtirCurtir
oi, bom dia, ha alguns anos fui a um evento promovido por vc, na suite mandala se nao me engano. fui levado por uma domme na epoca chama-se Deuza, depois disso nunca mais tive contato. e sempre sinto muita vontade de participar bem mais ativamente deste mundo, por isto estou entrando em contato com vc, na esperança de que possa me apresentar de uma forma definitiva a este mundo.
CurtirCurtir
Oi, Beth. Bom te ver de volta. Melhor ainda você estar escrevendo novamente. Estava sentindo falta dessas leituras.
Li o livro e também não engoli muita coisa. Se assemelha demais a aqueles romances açucarados de antigamente, produzidos em serie. Me decepcionou logo no começo, quando foi traçado o perfil dos personagens principais. Ainda mais porque iam tender a uma relação BDSM… Já nao gosto desses esteriotipos “principe encantado e gata borralheira” para relações mais “tradicionais”. Em relações BDSM fica muito estranho. E o perfil pisicologico e emocional deles… intragável.
Esse texto lembra muito a resposta que dei a uma amiga quando ela perguntou o que achei do livro. Não indiquei, ela não ia suportar.
Quem gosta de romances açucarados e com cenas picantes, pode gostar da serie. Mas não acho nada de estraordinário.
CurtirCurtir