Nota: postei o relato a seguir em nosso antigo blog em dezembro de 2004. Resolvi republicá-lo aqui, com algumas ligeiras alterações, pois pretendo amanhã repetir o mesmo “feito”: sair feminizado em público em um evento “não-sadofetichista”. O texto original encontra-se aqui: http://fragilreino.blogspot.com/2004/12/feminizado-no-halloween.html

Espero que se divirtam tanto quanto eu me diverti!

* * *
No cômico filme “Legalmente Loira” há uma cena maravilhosa que, desde que a vi, povoa minha imaginação. A protagonista do filme, Elle Woods, vai à uma festa à fantasia usando uma engraçada e sensual fantasia de coelhinha: body rosa com rabinho branco em forma de pompom, e tiara com orelhas rosas de coelho. Muito show!

Então, quando ela chega à tal festa… SURPRESA!

A festa era formal, e não à fantasia! Elle fora deliberadamente mal informada por uma garota que gostaria de vê-la humilhada!

Resultado: Elle perambula pela festa com sua cômica e sexy fantasia de coelho pelo meio de todos, que estão vestidos em trajes sociais. Desnecessário dizer que desta forma todos a olham como se fosse uma loira gostosa com cabeça-de-vento.

Desnecessário dizer também que, como escravo submisso que sou, adorei a cena e já fantasiei muito com ela: eu feminizado (com a mesma sexy fantasia de coelhinha rosa) andando no meio de uma festa em que todos estão em trajes normais. As garotas rindo de mim e os homens zoando da minha cara, fazendo galanteios e me dando apalpadas surpresas nas nádegas.

Hahaha! Que tesão!!!

Pooooois bem, recentemente finalmente pude, não apenas realizar essa fantasia, como também realizar uma antiga fantasia da minha Senhora e eu: sair feminizado em público.

Semana passada, através de um amigo, F., soubemos de uma festa Halloween à fantasia numa boate GLS daqui de Fortaleza. Minha Senhora conversou comigo, eu fiquei pensando, tentando ver se desta vez criava coragem (há um tempão que pensávamos em fazer algo assim) e então… TCHARARAM!!!

Topei!!!

* * *

A comédia já começara horas antes da tal festa começar.

A mãe de minha Senhora, surpresa com o vai-e-vem de F. e da Rainha Frágil, e com o que eles vestiam (Minha Senhora de camiseta branca da BDSM Nordeste, shortinho de vinil vermelho, botas brancas e um charmoso lencinho vermelho com bolinhas brancas ao pescoço; F. com uma calça branca, uma peça de couro que lembrava um shibari cobrindo o tórax e as costas, uma capa negra e um chapéu de mago), perguntou o que era aquilo, e minha Senhora a informou que estávamos nos arrumando para uma festa à fantasia. Sua mãe logo perguntou sobre mim, de que eu iria fantasiado. A Rainha Frágil não titubeou:

“Ora, de mulher!”

A mãe, que é super “machista” (ela se irrita quando realizo algumas tarefas domésticas, como arrumar o quarto ou lavar a louça. Para ela, quem devia fazer isso era sua filha!), riu e gritou para mim:

“Cuidado! Não veste não, que você pode acostumar!!!”

Ih… tarde demais!

Bem, enquanto ouvia a se lamentar lá fora (“Coitado do rapaz…”), eu já estava vestindo a minha fantasia de “bruxinha Kelly” (“pequena Kelly” é o meu alter-ego feminizado): calcinha, meia-calça negra transparente e meias arrastão por cima (que camuflam legal os pêlos da perna), saltos-altos, um vestido longo negro bem justinho, uma capinha negra transparente presa ao pescoço e um chapéu de bruxa.

Examinei-me ao espelho para conferir se estava tudo certo… inclusive o “truque”.

É, o truque! “Esconder” o pênis sob a calcinha – “dobrando-o” para trás o mais que puder entre as pernas – e puxando a calcinha o máximo que puder para cima, para impedir que o pênis se “desdobrasse”.

Ao me inspecionar no espelho, vi que tinha feito correto. Não havia nenhum volume indiscreto aparecendo entre minhas pernas. O problema é que meu pênis estava em “posição de descanso”. Ou seja: se mais tarde ele ficasse ereto – e com certeza iria ficar (tenho 25 anos e bastante hormônio funcionando) -, o tal volume não iria aparecer?

Como já citei, o vestido é bem justo. Por isso, por rápidos instantes ensaiei algumas poses para deixar meu corpo, sob o vestido, com forma feminina. Levantei bem o queixo, arqueei o tórax para a frente e encolhi o estômago. Assim eu não ficava tão desengonçado.

Finalmente pronto, ou diria, pronta, chamei minha Senhora que, junto com F., se esbaldaram de tanto rir, impressionados como o vestido, que me caiu bem. Logo, Rainha Frágil aplicou maquiagem em mim. Meu pênis começou a “reagir”, mas felizmente estava bem preso lá embaixo.

Um pouco depois, quem também riu muito foi a mãe de minha Senhora, surpresa e ligeiramente indignada com aquela minha situação (como eu disse, ela é meio machista).

Entretanto, depois de eu ir e vir pela casa várias vezes (para pegar bolsa, máquina, ingresso, telefonar pro táxi, etc), ela comentou comigo:

“É, até que o vestido ficou bem em você”

Um pouco depois fui à cozinha e tomei uns dois copos d´água, pois o vestido esquentava muito, mas logo me preocupei: E se mais tarde eu sentisse vontade de ir ao banheiro? Eu, parecendo um travesti amador, deveria ir ao banheiro masculino ou ao feminino? Ou numa boate GLS não tem dessas coisas, é unisex?

Na via das dúvidas, o melhor é se segurar e não ir.

* * *

Alguns minutos depois o táxi chegou e minha prova de fogo começou.

A Rainha Frágil mora num pequeno condomínio. Fiquei um tanto apreensivo se na saída houvesse alguém do lado de fora e me visse assim. Felizmente não havia. Só que, o piso do pátio interno é de paralelepípedo, velho e exposto a anos de erosão. Ou seja, totalmente desnivelado com um ou outro buraco aqui e acolá. Desta forma, para mim, com meus saltos-altos, foi um verdadeiro exercício de coordenação motora, o que só fez arrancar risos estridentes de minha Senhora.

Graças a Deus, cheguei ao táxi sem levar tombo algum. Rainha Frágil e F. já entraram no táxi, no banco de trás. Fiquei na dúvida se devia ir atrás ou no banco do carona (na frente com o motorista, eu vestido daquele jeito?).

– Vai na frente! – ordenou-me rindo a Rainha Frágil.

Sim, Senhora!

Entrei no táxi, e fiquei imaginando o que deveria estar passando pela cabeça do taxista ao ver aqueles três tipos estranhos, e ainda mais aquele sujeito vestido de bruxa, com meias arrastão ao lado dele.

– Boa noite – cumprimentei um tanto constrangido.

– Boa noite – respondeu em tom “profissional” o motorista.

Dei o nosso destino e fomos em frente.

Andar de táxi, no banco do motorista, vestido de mulher foi uma experiência de uma certa forma chocante. Às vezes, pego um táxi quando saio da casa da minha Senhora pra minha. Claro, sempre de roupas masculinas. Por isso, agora, eu estava me sentindo nú. Nem eu estava sabendo direito como apoiar meus saltos altos no piso do carro. Eu estava até com a sensação de que estava esquecendo alguma coisa… e estava mesmo!!!

– Vixe, o cinto!

Afivelei o cinto-de-segurança e tentei relaxar um pouco.

* * *

Pelo caminho, comecei a me preocupar com algo. E prestes a chegarmos à boate, vi que esse “algo” podia acontecer.

A boate se localiza próxima ao Centro Cultural Dragão do Mar – a mais conhecida atração turística da cidade -, numa área em que se concentram várias outras boates (essa a que íamos era a única GLS). As boates estão espalhadas em quadras separadas por ruas estreitas. Nelas, em frente às boates, nas também estreitas calçadas, se localizam várias barraquinhas de sanduíche e bebidas. Desta forma, as ruas estavam lotadas, tanto de carros, quanto de pessoas.

E eu iria caminhar feminizado no meio delas!

Paramos quase em frente à boate. Minha Senhora e F. saíram empolgados do táxi. Eu me demorei um pouco pois estava sacando dinheiro da bolsa para pagar o táxi.

(É, além de estar feminizado, também carregava a bolsa com nosso dinheiro e documentos).

Desci do táxi e a sensação “Legalmente Loira” começou antes mesmo de entrarmos.

Respirei fundo e fui atravessando o povo com minha fantasia de bruxa em busca de minha Senhora e F. que já tinham escapulido sem mim. Depois de alguns instantes consegui alcançar a Rainha Frágil, mas nem sinal de F., que havia se perdido do meio da multidão. Minha Senhora ordenou-me a guardar o lugar na fila enquanto ela procurava pelo nosso amigo desaparecido.

Fui até à fila, sozinho, desacompanhado e feminizado, e finalmente cheguei a ela. Próximo, havia um grupinho conversando e percebi de soslaio que um ou dois deram uma olhadela em mim. Fingi que não foi comigo.

Depois de alguns minutos que demoraram a passar, minha Senhora volta com F. todo alegre. A fila era curta, chegamos razoavelmente cedo à festa, e assim não demoramos muito para entrar na boate.

Na entrada havia duas catracas. A Rainha Frágil entrou pela da esquerda e foi revistada por uma mulher. F. entrou pela da direita e foi revistado por um homem-armário. Em seguida, também passei pela catraca da direita imaginando que seria revistado pelo mesmo cara. Qual não foi a minha surpresa ao ver a mesma mulher que revistara minha Senhora se pondo à minha frente?

– Só vou te revistar, tudo bem? – disse ela sorridente.

– Tudo bem. – Respondi sorridente, um tanto constrangido.

Putz. Em toda a minha vida nunca fui revistado por uma mulher!

Afastei um pouco os braços de meu corpo e ela delicadamente começou a apalpar as laterais do meu tórax e foi descendo até a cintura. Fiquei meio nervoso. Fiquei imaginado se ela ia apalpar a virilha, como alguns seguranças masculinos fazem. Fiquei com medo que meu pênis “se avolumasse” e me fizesse passar vexame ali mesmo. Felizmente nada disso aconteceu. Ela agradeceu e me desejou uma boa noite. Eu agradeci e fui seguindo F. e minha Senhora, que ria muito com a minha situação.

* * *

A boate possui dois ambientes. O primeiro é uma pista de dança fechada. Bastante escuro, somente iluminado pelos jogos de luzes, lasers e flashes. O preferido dos mais afoitos, e era quase que exclusivamente freqüentado por homossexuais. Era possível ver o movimento de cima, através do mezanino com “american-bar”, acessado por uma escada, que ficava do lado de fora, subindo-se um lance dela.

Já o segundo ambiente era uma outra pista de dança, com palco, bar, uma mesa de sinuca próxima e área de mesas, aberta ao exterior, pois se localizava no terraço do prédio, e era acessado pela mesma escada citada, subindo-se até o fim dela. Este era um abiente mais “comportado”, freqüentado por heterossexuais e por homossexuais menos afoitos ou que estavam apenas descansando do agito lá debaixo.

Mais tarde a escada seria uma verdadeira provação para mim, mas logo agora eu já pude sofrer um “preview”: ela era ligeiramente íngreme, cada degrau era quase do tamanho exato da sola de meu pé. Temendo me desequilibrar ou pisar em falso, eu só subia e descia me apoiando no corrimão, o que não era tarefa muito fácil, pois já havia um certo movimento de vai-e-vem na escada e infelizmente nem todos eram gentis com jovens feminizados vestidos de bruxa. Minha Rainha e F. nem perceberam a minha aflição, pois já estavam bem à minha frente. Fui subindo a escada por trás de um travesti.

Caramba, era literalmente um mulherão: bem mais alta e forte que eu. Se duvidar, era quase tão forte quanto o homem-armário que revistou F. na entrada. Apesar disso, ela andava com graciosidade e mantinha um ar bastante feminino. No meio da subida, veio um cara descendo. Ao passar ao lado dela, ele de repente levou a mão à virilha dela e cochichou-lhe algo à orelha. O travesti o olhou um tanto indiferente, mas com uma certa irritação, e seguiu em frente. O cara sorriu e continuou a descida. Quando ele chegou quase ao meu lado, eu já estava meio apreensivo. Achei que ele também me faria alguma gracinha. Só que ele passou por mim como se não tivesse notado minha presença.

Ele foi se embora e eu… ah, sei lá, acho que fiquei meio decepcionado…

* * *

Depois de chegar finalmente ao fim da escada com todo o cuidado do mundo, vi que minha Senhora e F. já se dirigiam à área das mesas. Para se chegar até lá, partindo-se da escada, é preciso passar pelo bar e depois pela pista de dança. Ao seguir meu rumo, voltei a sentir novamente a sensação “Legalmente Loira”.

Naquele momento, o ambiente não estava muito cheio, já havia um número razoável de pessoas no bar e na pista de dança… mas não havia ninguém fantasiado!

Lá fui eu, com meu vestidinho e chapéu de bruxa passando pelo bar e atravessando a pista de dança, no meio de pessoas que se vestiam normalmente. Tive a impressão (correta) de que estava sendo observado. Creio que me olhavam não apenas por causa da fantasia que eu usava, mas também talvez por causa do meu andar: um tanto desengonçado sobre os saltos-altos. Acho que devo ter dado a maior bandeira que eu não era mulher de jeito maneira. Continuei meu passo mais uma vez fingindo que não era comigo.

* * *

Finalmente, cheguei na área das mesas. Não havia tanta gente lá, porém dava para perceber que dentro em breve não haveria mesa para todos. Algumas já eram compartilhadas. Conseguimos achar uma sem ninguém, próxima à pista de dança e do palco. Nos abancamos, só que a banda já estava tocando um rock anos 80, o preferido de minha Senhora, que já começara a dançar entusiasmada, juntamente com F. Eu continuei sentado, cuidando da bolsa. Não tinha intenção de dançar. Três motivos: primeiro, sou um péssimo dançarino; segundo, sobre saltos-altos devo ser pior ainda; e terceiro, não estava afim de chamar mais atenção ainda.

– Vá comprar cerveja! – ordenou-me Rainha Frágil, feliz da vida com a música.

Sim, Senhora!

Enfrentei novamente o público da pista de dança, fui ao caixa, comprei um tíquete e fui ao balcão do bar. Lá havia um bom número de pessoas bebendo e conversando. Eu me imiscui entre elas, tentando não chamar (muita) atenção. Um dos atendentes pegou meu tíquete e me entregou uma cerveja. Saí de lá e novamente atravessei a pista de dança, que pouco a pouco começava a encher de pessoas.

Minha Senhora bebeu um pouco e voltou a dançar toda faceira. Da pista de dança, ela me lançava olhares e sorrisos. Uma garota flertando outra garota. Depois de dançar alegremente por um tempo, ela veio até mim e nos demos um longo e apaixonado beijo. Fiquei imaginando se alguém que estivesse nos observando agora imaginaria que éramos um casal de lésbicas, o que me deixou com muito tesão, e o meu pênis se espremendo lá embaixo.

(De fato, aconteceu mais ou menos o que imaginei. Mais tarde, ela me contou que ouviu um casal sentado atrás da gente comentando entre eles qual era o nosso “lance”. Perguntavam-se se nós éramos lésbicas ou travestis)

Depois, minha Senhora se sentou e ficou bebericando um pouco. Percebi aflito que meu pênis começava a se soltar por baixo e tentei me ajeitar. Dei-me conta que estava sentado com as pernas ligeiramente abertas, pois meu pênis preso começava a doer. Tentei manter a compostura, cruzando as pernas, o que machucou ainda meu pênis. Então mantive as pernas bem juntas. Doía, mas menos. Lembrei-me também de manter o queixo e tórax erguidos e a barriga encolhida, para manter uma postura feminina.

Passou-se um tempo e o lugar começou a lotar. Muita gente começou a ficar de pé. Eu não largava da cadeira. Não estava afim de perdê-la para alguém e ter de me manter o resto da noite em pé sobre os salto-altos. Perto, um grupo se juntou e vez ou outra alguém esbarrava em mim. Resolvi me afastar um pouco (junto com a cadeira, é óbvio!) e senti minha perna como se tivesse sendo fisgada. Notei que a meia arrastão se prendera num parafuso da perna da cadeira. Consegui soltá-la.

Aff! Agora pronto, além de me preocupar com a postura, deveria me preocupar também com as meias.

Tempo depois, um fotógrafo do site Zona GLS (hoje extinto) me perguntou se podia tirar uma foto minha. Achei graça e topei, para alegria de minha Rainha!

É isso mesmo! Depois de anos criando coragem, na primeira vez que saio feminizado em público, vou parar em um site! Morram de inveja, mortais!!!

Minha Senhora deu muita risada e nós voltamos a nos beijar, bem sensualmente.

* * *

Mais uma vez minha Senhora voltou à pista de dança com F. Fiquei em minha cadeira, segurando a bolsa no colo, sozinho no meio da multidão que se avolumava cada vez mais. Quem se avolumava também era meu pênis, doido pra se soltar. Juntava, separava, cruzava as pernas, na tentativa de aliviar as coisas. É quando sinto um cutucão em meu pescoço. Eu me viro, vejo um monte de gente, mas não consigo descobrir o que foi. Volto aos meus afazeres, ou seja, cuidar da bolsa de minha Senhora enquanto ela dança. Novo cutucão, desta vez em meu ombro. Que diacho! Eu me viro e novamente nada de pista. Xiii… era bem que capaz de ser alguém se engraçando comigo. E era mesmo: a Rainha Frágil que tinha tentando me assustar. Ela chegou rindo e me ordenou a comprar mais uma cerveja. Já devia ser a terceira ou quarta. Meus pés já estavam doloridos de andar sobre os saltos, mas ordens eram ordens e lá fui eu.

Se antes eu achava a pista de dança uma ameaça pelo constrangimento que eu sentia ao atravessá-la, agora era uma perigo pelo número de pessoas que a ocupava, dançando e se movimentando de um lado para o outro. Eu estava um pouco cansado, e já começava a sentir uma certa dificuldade em me equilibrar sobre os saltos. Tinha de evitar os esbarrões e atravessar pelas “brechas”. Foi uma verdadeira estratégia! Quando finalmente chego no caixa, descubro que acabaram-se os tíquetes e que eu devia comprar no caixa do andar debaixo.

Eita! Lá fui eu. Desci um lance de escada, comprei o bendito tíquete, subi um lance de escada, me engalfinhei no balcão, lotado, esperei pacientemente em pé pela cereveja, voltei me desviando das pessoas na pista de dança, entreguei a cerveja e, ufa!, voltei para a minha cômoda cadeira, para o alívido de meus pés.

Pra variar, minha Senhora ria de minhas estripulias…

* * *

O tempo foi passando. Minha Senhora dançava muito, depois vinha se sentar junto de mim, conversávamos, observávamos o movimento, batíamos algumas fotos. Chegou a comentar sobre uma garota com quem dançara e, aparentemente, poderia “rolar algo”, mas nessa hora chegou um homem, companhia dela, e minha Rainha saiu.

Já eu, em minha abençoada cadeira, observava o ambiente ao redor. Fiquei impressionado com os travestis. Gostava de me imaginar com o corpão delas, sensualmente vestida e caminhando graciosamente.

Eu também gostava de observar as lésbicas. Principalmente como dançavam uma com a outra e se beijavam.

Mulheres se beijando é a coisa mais linda do mundo!

* * *

Pouco a pouco, o ambiente começou a esvaziar. Quando vimos já eram quatro da manhã! Só então notei pela falta de F. Não estava conosco. Já tinha ido se baldear lá embaixo na pista de dança. A esta altura, a Rainha Frágil já estava cansada e com sono, e me ordenou ir buscá-lo para irmos embora. Ou seja, ela estava me mandando ir, sobre meus saltos-altos, descer dois lances de escada, adentrar em um ambiente completamente escuro, procurar uma pessoa no meio de uma multidão que dançava e fazia sabe-se lá o quê sob a penumbra, e depois retornar subindo dois lances de escada.

Sim, Senhora!

Atravessar a pista de dança já não foi tão difícil, havia poucas pessoas agora, porém voltou a ser um tanto constrangedor pois novamente eu estava à vista de todos, com meu vestido, meu chapéu de bruxa e meus passos um tanto trôpegos.

Descer a escada, sim, é que foi problema!

Desci com o maior cuidado do mundo me equilibrando no corrimão, atenção e esforços redobrados, eu também já estava ficando com sono. Graças a Deus, cheguei inteiro lá embaixo e percorri o corredor que dava acesso à pista de dança. No corredor havia bastante gente conversando, muitos travestis, e uns dois ou três casais de homossexuais se beijando e se agarrando. Eita, fiquei imaginando como estariam as coisas dentro da pista de dança.

*  *  *

Cacete!!!

Que escuridão! Que calor! Que barulho!

Que multidão!

Puuuuuuuutz!!! Missão quase impossível a minha.

Dei alguns passos e quase tropeço. Uma decoração de Halloween jazia caída no chão. Devia haver outras dessas espalhados por aí. Andava a passos bem curtos à procura de F., mas só procurei pela área próxima da entrada porque mais lá no meio todo mundo se espremia em todo mundo!

Observei atentamente pelo meio da multidão, andando de um lado ao outro, sem parar em momento algum, apesar dos protestos dos meus pés. Confesso, tinha medo de, na escuridão, ser confundido com um travesti de verdade e que dessem em cima de mim. Mas que nada! Fui deixado em paz. Continuei me esforçando em minha busca, enquanto minhas pernas se transformavam em pasta, e eu, sob o vestido longo, derretia.

Volto, subo dos dois lances de escada, me segurando pelo querido corrimão, atravesso a pista de dança praticamente vazia, chego à nossa mesa… e minha Senhora não estava mais lá!

Olho ao redor e percebo ela sentada em outra mesa do outro lado da pista de dança. Vou até ela, que se mantém estranhamente quieta, e digo que não achei F. Ela se chateia e me diz para descansar um pouco e depois voltar a procurá-lo. Suspirei. Eu ia sugerir para a gente somente sentar e esperar por ele.

Bem, fui me sentar ao seu lado, e ela, com um gesto, me ordenou para que eu me sentasse do outro lado. Estranhei, mas fiz o ordenado. Alguns minutos depois, riu e me contou o que houve: Ela estava tentando mais uma vez paquerar a garota com quem havia dançado alguns minutos antes, olhando-a diretamente pra ela, esperando ser notada, pois estava mais uma vez acompanhada de um cara. Infelizmente não deu certo e ela saiu com o sujeito.

Minha Senhora então foi ao banheiro, e eu fiquei só, aguardando o retorno de F. Próximo a mim havia um grupo de garotas. Uma delas estava sentada bem ao meu lado. Logo, uma outra garota caminhou até esta, sentou-se em seu colo de frente para ela, e as duas se deram um longo e tórrido beijo, pareciam que iam se engolir.

Pelo menos imaginei que foi assim. Como eu disse, eu estava sentado ao lado, e virar o rosto para olhar seria muuuuuita indiscrição da minha parte. Realmente, tive que me segurar para não dar tanta bandeira. Foi mesmo uma pena. As duas pareciam estar bastante apaixonadas.

Um pouco depois, minha Senhora voltou:

– Vá procurar F. de novo, e na volta me traz uma cerveja e uma ficha pra sinuca.

Os coitados dos meus pés não acreditaram no que ouviram.

– Ficha pra sinuca?

– Ficha pra sinuca.

Sim, Senhora!

* * *

Mais outra vez enfrentei os dois malditos lances de escada e cheguei à pista de dança inferior, permancendo lá por vááááários minutos, ignorando as súplicas de meus pés, presos nos saltos. Olhei, andei, olhei, andei, olhei e nada de F.

Voltei, subi os #$%@&# dos lances de escada, lembrei que lá em cima não tinha mais tíquete pra cerveja, desci um lance, comprei o tíquete da cerveja e a ficha pra sinuca, subi e… caracas, onde eu estava mesmo? Ah, sim, tinha voltado ao terraço. Pois bem. Peguei a cerveja e a ficha, e encontro minha Rainha à mesa convesando com F. Ela me chamoa pra jogar sinuca e quando se vira para convidar F., ele já tinha se baldeado para uma pequena galera que ainda dançava lá na área das mesas.

Eu e minha Senhora jogamos um pouco, e ríamos com os erros abissais um do outro, causados pelo sono e cansaço. Rainha Frágil venceu a partida com um “suicídio” meu. (Não foi proposital, juro! A própria Rainha Frágil é testemunha!).

Finalmente(!), fomos embora, os três rindo.

* * *

Pegamos um táxi, deixamos F. em casa e então chegamos ao condomínio onde mora minha Senhora. Entramos, atravessamos o pátio, chegamos à porta da casa de minha Senhora, tirei da bolsa a chave, pus no trinco… e a porta não abriu.

Tentando forçar a porta, percebi que alguém de dentro passou a tranca, provavelmente a mãe ou o filho da minha Senhora que não deve ter percebido que ainda não havíamos chegado. Batemos à porta, tocamos a campanhia várias vezes e nada. Minha Senhora teve a idéia de ligar pra casa, talvez o telefone acordasse alguém, entretanto tínhamos deixado os celulares em casa.

– Você fica aqui tocando a campanhia e eu vou lá fora ligar do orelhão.

– Não, deixa que eu vou.

Eu me ofereci pois minha Senhora, após tanto dançar e beber, com certeza estava mais cansada e com sono do que eu. Além do mais, eram cinco da matina. As ruas estavam desertas e temia que alguma coisa acontecesse a ela.

Então lá fui eu, com meu chapéu de bruxa, meu vestido longo e saltos-altos, caminhando pela rua até a esquina para ligar de um orelhão. Sim, eu mantive o chapéu-de-bruxa. Preferia que imaginassem que eu era uma garota fantasiada de bruxa ao invés de um cara usando um vestido longo. Mas pelo meu andar acho que era possível perceber que a garota na verdade era um cara.

Putz, meu nervosismo só não foi maior pois eu estava morrendo de sono. O céu clareava, e já se ouvia os pássaros. Um sujeito passou vindo de bicicleta do outro lado da rua. Fiquei morrendo de medo que fosse algum assaltante (acontece que eu não tinha nada para ser roubado. Que que ele faria então? Estuprar-me?), mas ele apenas me olhou e seguiu caminho. Ri comigo mesmo, achando que ele imaginou que eu fosse travesti fazendo ponto. Afinal de contas, estávamos a apenas algumas quadras da beira-mar, que nas altas horas se torna um “point” de prostitutas e travestis.

Liguei e consegui acordar a mãe de minha Senhora. Expliquei o ocorrido, retornei, e finalmente, cansados, exaustos e combalidos entramos em casa.

Mal consigo esperar pelo próximo Halloween!!!