
Vejo as pessoas indagarem. Já ouvi tantos absurdos. Dia desses um dizia que veio do Egito. Ah, sim, de certo passou por lá. Imagina o sadismo de tornar um cara eunuco para então lhe confiar seu hárem. Caraca. Mais recentemente alguem apostava que os Satanistas vieram primeiro. Se calha esqueceram da “Santa” Inquisição com aquelas engenhocas impressionantes de tortura.
É tão absurdo pretender contar essa história. É o mesmo que dizer que a homossexualidade veio de Porto Alegre (heheheh não resisti!). Quem sabe dizer quando foi que surgiu o primeiro homossexual no mundo? E o primeiro sádico? Basta ler os livros de história. O sadismo existe desde que o mundo é mundo.
Foi mudando de cara na mesma proporção em que a vida humana foi sendo mais valorizada. Porque na antiguidade pessoas morriam para deleite dos Reis. Os inimigos derrotados eram oferecidas em banquetes macabros.
O que mudou foi que a vida hoje vale mais hoje do que valia há trezentos ou quatrocentos anos.Os sádicos são os mesmos. E de certa forma havia um consenso: os derrotados seriam sempre escravizados.
Foi o valor da vida humana que mudou, afinal.
As referências foram se modificando e lá um dia Sade apontou a roupa do Rei: “Isto não tem nada a ver com a guerra, nem com as religiôes, nem com a honra: isto é sexual!” E então nos chamaram de libertinos.
E dai então a história deve ter se perdido de novo e nos encontramos novamente há 40 anos quando os gays levantaram a bandeira da diversidade.
Eu acho que foi assim até os dias de hoje, no formato SSC com direito a safe-word.
* * *
MARQUÊS DE SADE
Aos Libertinos
(texto do Marquês de Sade)
Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos é a vós apenas que ofereço esta obra: nutri-vos de seus princípios, eles beneficiam vossas paixões, e essas paixões, com as quais os frios e insípidos moralistas vos assustam, são apenas os meios que a natureza emprega para que o homem alcance as intenções que ela tem sobre ele; atentai apenas a essas paixões deliciosas; seu órgão é o único que vos deve conduzir à felicidade.
Mulheres lúbricas, que a voluptuosa Saint-Ange seja vosso modelo; desprezai, a exemplo dela, tudo o que contraria as leis divinas do prazer que a acorrentaram durante toda a vida.
Donzelas cerceadas durante um tempo demasiado longo nos laços absurdos e perigosos de uma virtude fantástica e de uma religião repugnante, imitai a ardente Eugênia; destruí, pisai, com a mesma rapidez que ela, em todos os preceitos ridículos inculcados por pais imbecis.
E vós, amáveis debochados, vós que, desde a juventude, não tendes outros freios senão vossos desejos nem outras leis senão vossos caprichos, que o cínico Dolmancé vos sirva de exemplo; ide tão longe quanto ele se, como ele, quereis percorrer todos os caminhos floridos que a lubricidade vos prepara; deixai-vos convencer ao seu ensino de que apenas ampliando a esfera de seus gostos e de suas fantasias, apenas sacrificando tudo à voluptuosidade é que o infeliz indivíduo conhecido como homem, e lançado a contragosto nesse triste universo, pode conseguir semear algumas rosas nos espinhos da vida.
Marquês de Sade. A Filosofia na Alcova. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Circulo do Livro, s/data.
muito bom o texto e comentário, alimento da alma e da razão. bjs
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Se a pergunta fosse: “quais as origens do sadismo e do masoquismo?” a resposta fatalmente seria algo como: “desde que surgiu o primeiro agrupamento humano, já havia esse tipo de “instinto” sádico e masoquista, ou seja, desde que o mundo é mundo”.
Agora se a pergunta for: “quais as origens do BDSM como comportamento sexual ou como grupo” aí fatalmente a resposta será outra muito diferente (resposta que eu não possuo, seria necessário uma “arquelologia” deste saber).
Porque para mim, sadimo e masoquismo, dominação e submissão, disciplina e bondage estas práticas unidas formam um conceito – o conceito de BDSM – que se foca ou se sustenta em outros conceitos somo SSC, transferência de poder, liturgia, safeword, etc.
Penso que o conceito de BDSM sem os conceitos que citei acima e que acredito o embasam não é o conceito de BDSM, é apenas o sadismo, o masoquismo, a dominação, a submissão, a disciplina, o bondage.
Qdo vamos a uma biblioteca e buscamos a seção de psicanálise ou de psiquiatria e vamos estudar o comportamenteo sadomasoquista nos livros especializados, por exemplo, não estamos estudando BDSM. Estamos estudando o comportamento sádico e o masoquista. Agora quando nos debruçamos sobre os conceitos de liturgia, transferência de poder, SSC, não estamos estudando apenas o comportamento ou instinto de sadismo e masoquismo, estamos estudando os pilares do BDSM e isso não está nos livros (porque não nos entendemos o suficiente pra colocar isso em livros, para discutir e ouvir um a “verdade absoluta” do outro na tentativa de buscar um grau de coerência e criar conceitos únicos)
Bem, eu penso assim. Não sei quando surgiu o BDSM, mas em minha leitura de mundo não foi com o surgimento da humanidade.
Deixo aqui p link de um texto escrito por Senhor Verdugo, que tenta buscar as origens sociais (não do sadismo e do masoquismo, mas do BDSM)
http://www.senhorverdugo.com/ler_historia.asp?ID=34
Bjo
rose
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Rose, o que eu não entendi é tipo, o que eu fiz com o meu sadismo quando eu encontrei o BDSM?
Porque você diz ali: “Se a pergunta fosse: “quais as origens do sadismo e do masoquismo?” a resposta fatalmente seria algo como: “desde que surgiu o primeiro agrupamento humano, já havia esse tipo de “instinto” sádico e masoquista, ou seja, desde que o mundo é mundo”.
E depois:
Agora se a pergunta for: “quais as origens do BDSM como comportamento sexual ou como grupo” aí fatalmente a resposta será outra muito diferente (resposta que eu não possuo, seria necessário uma “arquelologia” deste saber).
A impressão que eu tenho é de que no primeiro momento voce falava de farfalhos e no segundo momento fala de granfanhos.
Vamos estabelecer algumas premissas para poder ir adiante… (Estou falando com voce e com outra pessoa que defendeu pontos parecidos com esses que vc levanta)
Fato: Para a psiquiatria o que define o Sadismo que eu pratico do Sadismo doentio é o CONSENTIMENTO, apenas o consentimento.
Então, eu sempre fui sádica. Eu nasci sádica. Eu continuo sádica com ou sem BDSM. A única coisa que faz de mim uma pessoa diferente dos sádicos doentios é que eu busco o consentimento do meu parceiro.
Ta me parecendo nessa interpretação que BDSM é apenas uma organização política, ou uma entidade. Um time de futebol. Que não está atrelado ao sadismo. Que não está atrelado ao sentir.
Estamos apenas nos organizando sob essa tarja. Mas somos os mesmos sádicos da antiguidade. Ou não?
O que afinal eu fiz com o meu sadismo quando abracei o BDSM?? O BDSM é apenas uma variação do mesmo tema. É a parte da história onde eu não posso mais dispor da vida humana como dispunha na Idade Média.
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Na antiguidade eles usavam outros recursos para obter o consentimento, ou, se não o consentimento pelo menos uma “meia” jusificativa. Usavam liturgias por exemplo. Nós realmente não precisamos mais disso.
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Não querendo me intrometer, mas já me intrometendo…
Se BDSM = sadismo + consentimento, e sadismo sem consentimento é doença, a questão que fica para a Rainha Frágil é a seguinte: você procura o consentimento só porque a sociedade assim o exige? Ou, se tivesse possibilidade, você seria sádica sem o consentimento?
Digamos, numa situação medieval onde você fosse, de fato, uma rainha e não houvesse pressão social alguma.
Você seria sádica sem consentimento?
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Obviamente, no último parágrafo, quando eu disse “seria sádica”, leia-se: “praticaria atos de sadismo?”.
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Eu acho que sim. Quando um Rei tinha o direito de dormir a primeira noite de todas as jovens que se casavam. Elas nao consentiam. Mas através de uma lei, ou de um ritual, eles cavavam uma justificativa qualquer. Mas nem precisavam. Porque lembre que até 1600 a mulher nem tinha alma. Então da mesma forma que você não se pergunta porque matamos as vacas para comer, eles não se perguntavam se era certo ou errado. Para os Reis aquelas mulheres tinham o mesmo valor das nossas vacas, ou bem menos que isso.
Se eu vivesse naquela época e pertencesse a uma casta que me desse essa permissão, com toda a certeza eu praticaria sim.
Se, por outro lado, eu nascesse em uma casta inferior, então, com certeza, eu seria uma revolucionária, rs.
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Não sei. Nem todo mundo usa as prerrogativas que tem. Havia reis que não dormiam a primeira noite com as jovens que casavam, mesmo tendo autorização legal para isso. E hoje em dia, mesmo sendo normal comer carne de vaca sem perguntar por quê, muita gente se pergunta e não come. Então não existe isso de fazer só porque todo mundo faz ou porque a lei permite: algumas pessoas se recusam a fazer aquilo que, por seu entendimento, julgam errado. Lei é uma coisa; senso moral é outra. Nem tudo que é lícito é correto, ao menos para mim. Mas moral cada um tem a sua…
Por outro lado, sei que muita gente discorda, mas não consigo ver o praticante do BDSM nem como sádico, nem como masoquista. Eles o são só na aparência. Sádico é aquele que provoca sofrimento. Mas o “masoquista” quer sofrer, então o “sádico” está lhe dando prazer. Um indivíduo só seria sádico se o outro não consentisse com o “masoquismo”. Ou seja, sadismo consentido é uma contradição lógica das piores proporções. Seria algo como estupro consentido, ou furto honesto, ou gelo quente, ou água seca.
De modo que vejo o BDSM do mesmo modo que uma relação “baunilha”. Dois indivíduos dando e recebendo prazer. E, se houver o sadismo em senso estrito, não é BDSM, e sim crime ou doença. Crime e doença se tratam com prisão e camisa-de-força. É por isso que o BDSM pressupõe a consensualidade, que é um desdobramento do conceito de são.
O BDSM é, isto sim, uma brincadeirinha onde um finge que é sádico, o outro finge que é masoquista e os dois acreditam. É claro que pessoas saudáveis não deveriam levar (embora muitos levem) essa fantasia a sério demais, porque é só uma fantasia, vez que, como eu disse, não há sádico nem masoquista de fato.
Contudo, estranho você dizer que praticaria se estivesse numa casta que lhe permitisse isso. A partir disso, quer dizer que você resolve tudo com a lei. Ué, então os políticos estão certíssimos. Se eles encontram um jeito de roubar e se livrar disso, já que a “casta” deles lhes permite tal “feito”, quem há de criticá-los?
Com todo respeito, discordo totalmente dessa sua acepção…
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Cara, não estou dzendo que todos os reis eram sádicos. Mas estou dizendo que os sádicos faziam uso de suas prerrogativas de poder para vivenciar o seu sadismo.
E estou dizendo que os valores eram diferentes. Os pesos eram diferentes.
Ponto.
* * *
E esse o nó das questões que estou vendo agora. Inventaram ai um BDSM “light”. Que não tem sádicos nem masoquistas. Este seria com certeza um dos preços a se pagar pela explosao de informações na internet. O povo tá chegando agora e tá mesmo viajando que a coisa é teatral, que é só ajoelhar e nem precisa rezar. A dor não é dor de verdade, a humilhação não é humilhação de verdade.
É tudo podolatria e ilusão.
AI, tristes tempos estes.
Mas, sinto, eu ainda estou aqui. E eu sou sádica. E meus parceiros são masoquistas e dai tiramos o nosso prazer.
* * *
Mas fico muito curiosa. Gostaria que você me fizesse um relato de um encontro seu com sua parceira. Queria entender melhor porque acha que é BDSM. Poderia fazer isso pra mim?
* * *
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Nem todo rei sádico usava suas prerrogativas. É possível ter prerrogativas mas, por conta de valores pessoais, abrir mão delas.
O que é sadismo? Sadismo não é fazer sofrer? Você dá uma surra homérica no seu parceiro, de deixá-lo manco e sangrando. Ele sofreu? Você realmente acha que ele sofreu? Como você pode dizer que ele sofreu se ele consentiu? Ele quis. Ele quis. Ele quis. Entenda isso. Você estaria praticando um ato de sadismo se pegasse um cidadão na rua que odeia apanhar e lhe desse uma surra de chicote. Isso seria sadismo. O resto não é sadismo. É “sadismo”. Sadismo de BDSM.
Não duvido que você seja sádica. Mas o que você faz no BDSM não é sadismo.
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Nao querido , não é por conta de valores pessoais. Lembre-se: estou repetindo novamente: os valores eram difetentes. Então, abriam mão de suas prerrogativas apenas porque não tinham desejos sádicos. Porque nem todas as pessoas são sádicas.
* * *
Sim, voltamos lá pra onde eu disse que o que difere o sadismo doentio do sadismo saudável é o consentimento.
Hum rum. Era justamente o que eu tentava de dizer.
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No BDSM praticamos o que chamamos SADOMASOQUISMO CONSENSUAL.
* * *
Mas é tudo sadismo. Desde que o mundo é mundo.
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Nem todas as pessoas são sádicas. Mas tenha certeza de que algumas pessoas ERAM sádicas mas não praticavam o “sadismo sem consentimento”. Porque pensavam nos outros mesmo quando a sociedade não exigia isso deles.
O que eu tento dizer é que sadismo consentido não existe. É contra a etimologia da palavra. É como se você dissesse: “Por favor, posso bater em você? Só vou bater se você gostar, portanto espero que me autorize”. Isso é sadismo?
Não acho que seja tudo sadismo. Acho que você é sádica e, como a sociedade reprime o “sadismo doentio”, você extravasa isso através da fantasia que é o universo BDSM. Porque sadismo consentido não é sadismo. Mas a gente engana a si próprio muito bem quando quer. Do mesmo jeito que a gente vai ao cinema e acredita que aquilo é movimento de verdade, quando, de fato, são só 24 fotografias estáticas por segundos. Sabemos que é falso, mas nos divertimos com isso, e por que não? Adiante com o BDSM!
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Acho que você é sádica e, como a sociedade reprime o “sadismo doentio”, você extravasa isso através da fantasia que é o universo BDSM.
Não.
Eu não venho para extravasar.
Venho para encontrar masoquistas,
e venho para fazer amizades.
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Ok, venha para o que quiser. Não existe absolutamente nenhum sadismo no gesto de bater em quem gosta de apanhar. É minha opinião e continua parecendo a mais acertada.
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Voce pode até nao ver. Mas a definição de sadico é o individuo que gosta de provocar dor. Se ele provoca essa dor com consetimento do parceiro, então ele pratica o sadomasoquismo consensual, e ele é BDSM. Se ele provoca a dor sem o consentimento, ele não é BDSM.
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Mas ao bater no seu parceiro você não está provocando dor. Está provocando prazer. Touché.
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Sim. Por acaso ele é o tipo de ser humano que sente prazer quando é torturado. ou seja, ele é um MASOQUISTA. Sente dor como todo mundo. Porque tapa é tapa e dói em qualquer pessoa. Mas o MASOQUISTA tranforma essa dor em prazer.
Sorte nossa, né? Já pensou? Com quem eu ia brincar se não existissem os masoquistas? Quem consentira em deixar eu bater sem sentir prazer?
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Mas, se ele sente prazer quando é torturado e você o tortura, você está dando prazer a ele, e não sofrimento. Sádico é quem gosta de fazer sofrer. Ele não sofre nem um pouco nas suas mãos.
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O sádico gosta de torturar, de constranger, de humilhar, de provocar dor. Ok?
Ele continua sendo sádico independe do que o parceiro vai sentir.
No caso do BDSM é necessário o consentimento, ou seja, preciso procurar parceiros que aceitem e ai só os masoquistas aceitam, e ainda (que sorte a deles!) conseguem extrair prazer disso.
Cara, é sério. Me faça um relato de alguma coisa que vc tenha vivido BDSM. Se não viveu nada, vamos parando por aqui porque estamos perdendo nosso tempo. Acima de tudo BDSM trata do SENTIR. Já te expliquei tudo. Mas vc não tem nenhuma relação com a dor. Jamais vai compreender.
Voce não pode compreender o que é o prazer pela dor sem ter vivido alguma coisa real. E se voce não é sádico nem masoquista, e se voce não é bondager. Se o que vc acha bonito é só mesmo aquele ajoelha e não reza, a tal liturgia. Então voce poderá, qando muito se encaixar em Disciplina. Mesmo assim, eu acho que voce deve procurar viver algo antes, ou questionar francamente o que espera encontrar neste meio.
Desculpe a franqueza. Eu acho que vc já entendeu tudo que estou falando. Daqui rpra frente, só voce sair pelo mundo e viver. Dai uns anos volte pra me contar o que descobriu
Se eu estiver errada, quero então que me fale de ti. Do que viveu, de fato, e do que busca.
Se não, paramos por aqui…
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Eu ainda estou refletindo calmamente sobre sua perguntas Senhora para compreendê-las e poder conversar melhor ok? Estou refletindo…, mas como acompanho seu blog, não tive como não ler seu bate bola com oDeadd boy.
vou me meter na conversa com o Dead boy aí em cima ok: eu sou submissa e na minha visão deste conceito, toda submissa é masoquista (embora o inverso não seja real). Eu “gosto” de sofrer e não, não gosto de sofrer pouco não, eu gosto de sofrer muito. Sofrer de verdade, tanto que eu invento modos de sofrer mesmo quando não recebo a minha migalha de sofrimento, mesmo quando não tenho quem de modo consciente me aplique isso, eu me coloco a disposição de alguém que dentro de minha “regra” eu identifico como capaz de fazer isso por mim e ele faz, mesmo sem fazer rss. Eu “gosto” de ser humilhada, me dá tesão, e eu me saboto (inconscientemente inclusive) muitas vezes pra conseguir isso, eu faço de um limão seco uma limonada pra uma família completa. Com uma frase com 5 palavras, ditas até mesmo sem a intenção de me desprezar ou humilhar, eu consigo ir ao inferno e ficar por lá uns dois dias.
Eu disse que eu “gosto” assim, entre aspas. Agora isso é gostoso? Não, paradoxalmente não é. É sofrimento. Dói na pele qdo se apanha de verdade (é, pq tem gente que apanha de mentirinha né? vamos combinar que tem uns flogers por aí que não doem, é só efeito psicológico mesmo, ou nem isso) e dói na mente, me causa angústia, taquicardia, aumenta a a minha pressão arterial e eu choro desgovernadamente. Há um enfrentamento de coisas impossíveis de serem transformadas em palavras, é trinta mil vezes pior que um psicodrama, muito pior que uma catarse. E tem a volta… o retorno. Isto é absurdamente horrível. É sofrido. Mas em algum lugar, em algum lugar, por um momento que seja, a energia liberada alivia a tensão. Há um gozo nisso (e não estou falando em orgasmo, não sejamos simplistas, falo de gozo no sentido lacaniano da coisa).
Como que eu consigo chegar nesse ponto que eu digo que eu “gosto”? Só consigo com um sádico de verdade. Com alguém que só não me mata, só não me lesa, só não me usurpa toda a dignidade, só não me destrói (ele pára antes de me destruir) porque embora seja sádico, algo o freia de ir ao óbito do meu corpo ou da minha mente. É só com esse tipo de homem que o jogo funciona comigo.
Esse sádico sabe o que é consensual dentro de nosso conceito de consensual ahh sim, pq no meu conceito de consensual, na minha “regra” pré-estabelecida pra começar a jogar, consensual é: “não faremos Senhor, o que ultrapassa meus limites éticos”. Ponto. Eu não falarei mais nada depois disso, depois dele escarafunchar o que é limite ético na negociação, a partir daí cada sessão é uma surpresa, eu nunca tenho como saber o que vai acontecer antes de acontecer, não estipulo condições pra minha entrega depois de dado o consenso.
Da leitura do Dead boy me deu a impressão que consensual é tipo fazer um acordo sobre tudo que vai acontecer de antemão… e do modo que vai acontecer, isso não é consensual, isso é dominação velada da parte submissa.
Se tem gente que joga assim? Tem claro, mas pra mim isso não é um jogo bom. É BDSM? É pq está amparado no SSC, num jogo de papéis e na transferência de poder (mesmo que momentânea ou ilusória, ou falsa). É submissão uma submissão que implica em colocar condições para a entrega? Pra mim não, mas pra muita gente que se diz submissa, ou se diz Dominador é. Quem está certo? Eu acho que sou eu, oras!!! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Há uns tempos atrás eu tentei explicar isso no meu blog, peguei a postagem de lá e vou colar aqui…
SADOMASOQUISMO NU E CRU
Conversando ontem com uma amiga masoquista pensamos juntas sobre o que rege esse nosso desejo. Não encontramos uma resposta para o que está por detrás dele e nem que me dissessem sábios e deuses eu acreditaria.
Prefiro acreditar que não há resposta pra isso, só há o SENTIR e não o que o motiva.
Mas do mesmo modo que não há uma resposta que me satisfaça, outras questões se fazem prementes – quanto mais me comprometo a refletir mais questões encontro –
Por que nem todo mundo sente igual?
Por que existem formas de sentir que são mais “brutais” que outras? Mais “sujas” e “marginais”?
Sei que as palavras são pesadas e feias e que quem lê pode imaginar que faço mal juízo. Eu não faço mal juízo, porque não faço mal juízo de mim mesma, do meu sentir.
Pensei em conjunto com minha amiga que as pessoas não gostam de falar de SM, ou melhor, as pessoas não gostam de falar desse SM. O SM roxo de bolinhas pretas cujo fundamento é o abuso. Porque é esta a verdade, o fundamento desse nosso SM é o abuso. O fundamento do SM, desse meu SM roxo de bolinhas pretas é o sádico abusar e a masoquista querer ser abusada, não temos defesa, mais que isso, não queremos ter defesa. O fundamento desse SM é nós masoquistas acharmos lindo a nossa degradação física e moral. Somos assim.
Mas…
Como conversei também hoje, existe um leque de opções de práticas e desejos e buscas e modo de sentir, tem gente que gosta de vivenciar a coisa sempre e em profundidade, não se enxerga sem ela, não está SM e sim é SM. E tem gente que gosta de vez em quando… e, fora isso, nem todos que gostam sentem roxo com bolinhas pretas, óbvio, e os que não sentem assim se esforçam pra não mostrar esse lado obscuro que é a perversão pura. Penso que porque esse lado sombrio vai contra a idéia de fazer o SM aceito por todos de dentro e de fora dele.
Cria-se então o discurso da normalização. Como disse minha amiga masoquista, vira o “hospício da normalidade”.
Mas voltemos à degradação.
Eu e minha amiga usamos para descrevê-la a palavra linda. A degradação física e moral é linda.
Vulnerabilidade, cacos espalhados, um ônus pesado associado a um bônus nem sempre de mesma proporção, humilhação, destroçamento, implosão, a perda da capacidade de se defender, ou o não desejar mais se defender. Sensações e emoções que agem como uma droga dentro da gente e nos deixam presas a elas. Masoquistas são mendigas. Mendigamos pancada, mendigamos monossílabos, mendigamos atenção e desprezo, nos humilhamos mesmo quando achamos que temos razão (penso inclusive que numa relação SM roxa com bolinhas pretas, sádico e masoquista não conhecem o significado da palavra “brigar”, não que a masoquista se anule a ponto de não ter opinião, ela tem, ela expõe, mas não existe briga porque sabemos exatamente quem manda e gostamos de ser subjugadas).
Dessa conversa com minha amiga que suscitou mais dúvida que certeza me apareceu um novo descompasso.
Eu fiquei aqui até tarde da noite lendo poesia enquanto conversava. E dentre tantas poesias que li, de novo essa do Glauco Matoso veio aqui lamber minha testa.
Mas hoje, hoje eu olhei pra esse soneto com outros olhos. Hoje eu discordo dele.
93 CONSENSUAL – Glauco Matoso [1999]
O sadomasoquismo é uma quimera.
O verdadeiro sádico é carrasco,
diverte-se causando dor ou asco,
contanto que não seja o que o outro espera.
Masoca pra valer não delibera,
atira-se sem medo do penhasco,
atura pisoteio até dum casco
e, numa arena, nunca escolhe a fera.
Querer que se completem é besteira,
pois o prazer do escravo frustra o dono,
e um cara só tortura quem não queira.
O jeito é o fingimento, e finjo sono
sabendo que o demônio da cegueira
vem me causar a insônia e o abandono.
O sadomasoquismo, pra quem SENTE esse SM roxo de bolinhas pretas, ora pois… não é uma quimera! Não é utopia, ilusão, fantasia, sonho ou imagem de minha imaginação, não é fingimento, como diz o poeta. É REAL.
O SM, esse SM é de uma realidade, brutalidade, marginalidade e crueza sem fim.
Sádicos e masoquistas que SENTEM assim me compreenderão e buscarão em suas imagens mentais diversos momentos em que, já fora de situação de cena, apenas foram quem são. Perversos. Por que é isso que nós somos. Não buscamos pra gente a pecha da normalidade, porque sabemos que nossa identidade sexual é diferente e, por ser diferente, lidamos num contexto erótico com coisas que pra outros podem não ser eróticas e que, na cabeça de muitos, nem deveriam ser.
Pense quantas vezes agiu numa situação corriqueira usando sua identidade sexual SM, numa conversa de msn por exemplo, alguém lhe impingiu dor (muitas vezes a pessoa do outro lado da tela, nem se tocou disso, que o que ela falava ou o modo como falava poderia te levar a associações que disparassem um gatilho emocional que levassem você a vivenciar uma situação dolorosa/humilhante) e você masoquista agarrou essa oportunidade de dor /humilhação com pernas e braços e foi fundo, bem fundo nela, ali, sozinha… sem o respaldo de ninguém (é porque tem isso também, tem gente que só se entrega a esse sentir se um outro cuidar dele, as que sentem o SM roxo de bolinhas pretas tão pouco se lixando se alguém vai cuidar ou não, se haverá alguém pra catar e colar os cacos depois ou não, porque ela já aprendeu a fazer isso por si mesma, paradoxalmente, é uma mulher de força, dignidade, de inteireza sem fim).
Não há fingimento. Há dor e um prazer que muitas vezes não é detectado sob a forma “salvadora” de gozo, de orgasmo, é apenas prazer imundo, energia dissipada.
Talvez pensem – se não há encenação com hora pra começar e acabar e orgasmo ao final, isso tudo é doentio – . Ao que respondo (talvez ingenuamente pois muitas de minhas idéias o são) que não é doentio porque inventaram 3 letrinhas SALVADORAS e ELÁSTICAS – SSC.
Que cada um então, encontre seu parceiro correto. Para terminar, um trecho de meu poema “sadomasoquista” favorito – excerto de “Versos Íntimos” de Augusto dos Anjos :
“(…) Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
.
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Rainha Frágil:
A última coisa que lhe digo é que, para mim, você seria sádica se, no momento crucial, deixasse de dar ao parceiro o que ele quer: apanhar. Estou lhe dizendo que 2 + 2 = 4 e você está me dizendo que eu preciso viver para descobrir que 2 + 2 = 5. E eu discordo. Se isso é tudo que você tem, então eu também paro por aqui.
Rose:
Mesmo no seu jogo de “não existem regras”, isso já é um consenso. O consenso de que não há regras. Em algum momento você consentiu que não oporia mais óbice nenhum. É um consenso tão válido quanto todos os outros. Não se trata de você decidir como tudo vai acontecer, muito pelo contrário, mas é um consenso. Mesmo que o seu parceiro a mate, você consentiu. Jamais se prescindirá do consenso, ainda que seja um consenso apenas inicial e tão vago como esse (“fazei comigo tua vontade”).
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Cara, vc naum conseguiu falar sobre si mesmo.
Não sei como é o seu jogo. Então se responder novamente e se a resposta não for um depoimento pessoal, vou apagar. Ok?
* * *
Rose, amei teu depoimento. Nossa, eu vejo uma tela em branco, sabe? Pra um sádico desenhar, pintar, bordar…
Voce é uma delicia… : )
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Não muito que falar sobre teu depoimento. Eu te conheço. Eu se o que significa. Voce mergulha fundo. Mas sabe, eu acho que os masoquista tem essa vantagem sobre os sádicos. O fato de poder mergulhar, perder os sentidos. Mesmo que não seja por nada, caberá ao sádico parar as vezes na melhor parte do jogo.
Eu de minha parte me protejo nos SSC, pra não ferir. Pra parar o jogo na hora certa. Pra não perder o controle.
A vida vale muito hoje.
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“Não muito que falar sobre teu depoimento. Eu te conheço. Eu se o que significa. Voce mergulha fundo. Mas sabe, eu acho que os masoquista tem essa vantagem sobre os sádicos. O fato de poder mergulhar, perder os sentidos. Mesmo que não seja por nada, caberá ao sádico parar as vezes na melhor parte do jogo”
É, eu acho que cabe ao sádico parar qdo a relação avança a um determinado ponto no qual a masoquista já entregou tudo, acho que em relações bem fundamentadas, mais cedo ou mais tarde, esse ponto chega, mas não acho que seja algo que cai do céu, acho que é algo muito construído isso, depende de confiança mútua e confiança não se adquire assim né?
Obrigada pelo elogio, nao me acho assim “uma delicia” kkkkkkkkkkkkk … até pq tem gente que me acha doida e anulada… mas acredito que existem potencializades em mim a serem exploradas, desejos a serem perseguidos, necessidades a serem vivenciadas. Um dia…
Não vou perguntar nada ao Dead boy. Ele está fechado na posição dele, não há conversa qdo uma parte quer ganhar a disputa.
Bjo!!
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Dead.. Não insista. Se nao pode falar de si, não insista porque eu não vou aprovar seus posts.
Se insistir eu vou bloquear voce no meu blog.
Todas as tuas duvidas foram esclarecidas com toda a boa vontade do mundo. Uma vez que você não tem nada a dizer de si próprio, se é um mero observador, isto então já não é uma troca e eu não tenho obrigação alguma de ficar te fazendo entender. Já te expliquei o que é, como penso… O mais, caro, vá viver primeiro.
Vá ter uma história pra contar.
Depois a gente conversa.
Fique bem.
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Obrigado, e um beijo no seu coração.
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Beijo no seu coração também.
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O cara te derrubou.
É lamentavel que tenha apelado e não publicado comentários em face da ausência de depoimentos pessoais.
vc não se garante
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