Sexo para mim sempre foi meio instrumental. Uma forma de ter controle sobre os meninos. Sempre transei com que eu quis. Escolhia realmente meus parceiros.
Nunca fui uma mulher que chamasse a atenção ao passar. Tipo gatona mesmo. Não.
E se fosse, seria péssimo, porque eu era muito tímida.
Ainda sou.
Mas sempre tive boas paqueras, vivi grandes amores. Não ser a boazuda do Planalto Paulista, nunca foi um problema para mim.
A timidez sim mas a vida me fez lidar com isso bravamente.
Trabalhei sempre em RH e atuei muitas vezes em Treinamento. Nunca entendi como fui parar nessa área mas sempre me senti muito bem.
Vencer a timidez foi para mim uma questão de sobrevivência mesmo.
A gente tem que ir tirando as pedras do caminho.
Aprendi com minha história que a gente não pode nunca ficar à deriva.
Que a gente tem que fazer escolhas.
A gente tem que ter força. Leite de pedra.
Me movia o que parecia estar sempre do outro lado do muro, ou lá em cima daquela montanha. O que estava além.
Despertar para busca do prazer, para compreender e viver plenamente minha sexualidade.
Eu gostava de transar porque gostava de beijos, aqueles corpos suando…
Mas nunca gostei de ser penetrada. E não gosto ainda.
Perdi a virgindade porque todas as meninas já tinham perdido menos eu.
Estava velha e antiquada aos 17 anos, rs.
Perdi nada. Ganhei foi o mundo.
Naquela época era uma libertação. Tenho 17 anos em 1977/78. Para uma geração antes da minha a virgindade era um tabu.
E perder/ganhar era libertar-se. Liberdade foi um valor caro para a minha geração. Lembra que eu nasci e cresci na Ditadura.
Houve de fato uma geração “Sexo, drogas e rock´n´roll” onde tudo era permitido. Só não se podia falar em política. E não existia a AIDS.
Eu libertina e um tempo desses. Fiz tudo. Vivi tudo.
Sexo não era um capítulo à parte da minha vida. Eu transava ou não.
Transava se tinha vontade. Permitir que me penetrassem era um dos meus atos de bondade.
Nosso único medo era de uma gravidez.
Porque nossas mães morriam pensando que éramos virgens.
Embora que verdade seja dita: quando a Gloria Pires ficou grávida em Dancing Days todo mundo quis ficar também.
Mas então eu gostava de sair, de beijar na boca, chupar, brincar.
Gosto de sexo.
Mas sempre soube que era diferente do padrão.
Que a minha sexualidade passava por outros caminhos.
Ainda menina fui surpreendida por reações voluntárias do meu corpo. Passei dias lendo “Navalha na Carne” do Plinio Marcos, que achei na gaveta do meu irmão.
Para desespero dos meus irmãos eu comecei a ler aos 4 anos e lia tudo.
Ali eu tinha uns 12 ou 13 anos. Brincava de boneca ainda. Foi uma sensação incrível e foi a primeira vez na vida.
É o lado mais doce de estar envelhecendo: tantas “primeiras vezes” para lembrar.
Só na Internet já aos 30 e poucos anos é que fui saber que existia BDSM. E era sacrificado, rs. Tinha que esperar dar meia noite, dai rezar para conseguir uma conexão e rezar mais ainda para ela não cair.
Mesmo assim conheci pessoas e comecei a procurar.
Fiquei encantada desde o primeiro minuto.
Primeiro entrava como submissa em canais americanos do mIRC, especialmente uma sala chamada #femalehumiliationsexy. Não sei como foi que cheguei ali. Mas eu adorava. Com um péssimo inglês, imprimia as conversas e passava dias traduzindo.
Melhor ser sub e fazer a quietinha, rs.
Eu não tinha repertório para ser Rainha e havia poucas referências.
O site da Helga Vany era o mais importante entre as Dominadoras.
Primeira vez que entrei em um chat nacional foi incrível.
Já foi boa. Já me enturmei.
Me explicaram tudo sobre BDSM, regras, práticas…
Era a Mandic. Foi lá que conheci o Roger.
Mas o conheci já era Rainha : )
Fui aprendendo, conversando com os submissos, com as outras Dommes, com Doms também.
Fui subindo em cima do salto.
Mas aqui a realidade era outra. A vida era boa. Eu acordava muito cedo, fazia café para os hospedes, pegava os cachorro e levava para a praia. As vezes meu filho ia junto, Às vezes o outro ia. Às vezes só eu e os cachorros. Eram 4 !!
Era um tempo bom.
Mas o outro sempre tinha um plano infalível para estragar qualquer pequeno sinal de estabilidade. Ou era uma briga, separa não separa, ou era porque ele descobria mais um jeito incrível de ganhar dinheiro sem trabalhar.
E lá íamos nós…
Em uma de nossas separações anos antes eu me envolvi com uma outra pessoa com quem tive o meu primeiro orgasmo incrível. Quase adoeci de paixão.
Quando voltamos dessa vez eu já queria gozar. E viemos para cá. “Quem sabe longe da família…” ele dissera. (Que bobagem!!)
Tudo era lindo. O trabalho com os hospedes. Os cachorros, a praia.
Os longos papos na internet.
Mas sempre tinha aquele medo da hora que ele ia de novo estragar tudo.
Meu filho inventou um sistema de multa cada vez que ele falasse em separação. ou em outro negócio. Mas acabou não dando em nada porque ele nunca pagava. Claro.
Então dormir com esse cara era um fardo.
Um dia vesti uma roupa toda fetichista , fiz uma garçonete toda linda e o convidei para um jantar. E foi horrível. Que eu estava lembrando do ex e logo estávamos de novo discutindo se separava ou não. Todas as tentativas de mudar algo terminavam assim.
Eu comecei a me buscar. Brincando com meu corpo. Me experimentando.
Conhecendo meus sabores.
As vivências como Domme me davam prazer imenso. Na verdade tudo ainda era fantasia. Mas lá no chat era a personagem segura e bela, toda Rainha.
Aqui pés descalços, areia, praia, cachorro… E medo.
No começo era assim. A Rainha pra lá, eu pra cá.
Mas com o tempo eu ia esquecendo de descer do salto quando saia dos chats.
A Rainha por vezes visitava meu lar. Levava um pouco do olhar.
Um pouco de medo que é bom na medida certa.
A Rainha foi se humanizando, aceitando sua fragilidade.
E a pessoa frágil aqui fora foi percebendo sua força.
Em dois tempos já estava botando o sujeito pra fora de casa.
Pra fora da minha vida.
Não era nada pra mim.
Depois conheci o Roger e vieram muitos outros escravos.
Mas só me tornaria a Rainha Frágil algum tempo depois, quando toda a minha humanidade foi colocada a prova, depois do acidente. Dias de muito dor e eu mudava meu nick “RainhaMuitoFragil” hoje. Ia impondo um outro formato para as relações Rainha-Escravo. Sempre foram homens fortes e generosos que se empenhavam em enxugar minhas lágrimas, me fazer rir, me dar prazer. Tudo o que eu quisesse.
Um dia um escravo disse que existia “um jeito Rainha Frágil de dominar”
E pronto.
Nasci tudo junto. Eu todas.
Primeiro fiquei Samia, a Rainha Frágil
Depois fiquei só Rainha Frágil.
Hoje sou Beth, A Rainha Frágil.
Primeira e única.
: )
Hoje entendo que buscar o prazer é um caminho.
Que temos direito a ele. Que vale a pena lutar por isso.
No próximo post vou falar do nosso entorno.
Da vida se misturando. O SM e o cotidiano.
Adorei a sua história de vida…uma lição de vida…vc é ÚNICA mesmo… tem ali confissões corajosas e fascinantes que provocam um tesão natural e esplontâneo…pelo menos a mim…
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