Vou preparar este post para que na próxima que um escravo faltar a um compromisso comigo eu o faça transcrever pelo menos 50 vezes.

Vou explicar novamente e se não entenderem vou tentar desenhar.

É assim: eu sou uma pessoa muito tranquila no meu cotidiano. Muito gente diz até que eu sou zen. Na verdade, não sou nada disso mas me acostumei tanto a lidar com o público que aprendi a organizar minha emoções e parecer sempre bem aos olhos dos outros. Quem trabalha com público sempre é um pouco artista, né?

E à medida que fui me desenvolvendo no BDSM mais ainda senti a necessidade de me organizar. Como boa virginiana que sou, arrumei tudo em gavetas com etiquetinhas, tudo bem organizadinho mesmo.

A gaveta BDSM é um pouco a gaveta da bagunça. Tem ali o meu lado violento, cruel, autoritário e, mais importante: a minha libido. Os brinquedos, os acessórios, os desejos mais loucos.  Tudo está ali.

As vezes bagunça um pouco a coisa e sempre penso que a libido não devia estar tão perto da violência. Mas na hora H acaba sempre tudo misturado mesmo.

Pois bem, quando marco um encontro com um escravo, eu tô lá na minha vidinha toda zen. Repassando aqueles memes do tipo “Um sorriso abre muitas portas” ou “Hoje está um lindo dia, sorria!”  e por aí. Com exceção do meu mau humor crônico em relação a política, sou toda sorrisos mesmo.

Daí marco aquele encontro e perto da hora combinada eu vou lá na gaveta do BDSM. À medida que vou revendo os acessórios e vou construindo a história daquele encontro vou libertando os outros impulsos, a violência, a crueldade… A libido se instala e vai aumentando até a hora do encontro.

Cada escravo é único para mim e eu vou preparando a história dele. Então quando chega a hora eu estou ali já à flor da pele. Violência, crueldade, libido tudo misturado e tudo bem forte.

Dai o desgraçadinho não aparece. E para onde vai toda aquela energia? Eu tenho que voltar ao trabalho. Tento enfiar as pressas de volta na gaveta mas tudo está imenso agora e preciso de um longo tempo para esvaziar.

Não dá pra sair chutando o cachorro, xingando o vizinho. Não dá. Ninguém tem culpa.

Ele liga diz que vai se atrasar e eu decido esperar. E deixo tudo ali voltar a crescer. E cresce. E cresce.

Dai ele se atrasa mais. Quando finalmente chega eu estou quase explodindo. Tudo ali e a raiva daquele tempo todo esperando.

Vou bater nele até esvaziar, até as coisas caberem de volta na porra da gavetinha apertada do BDSM. E lá pelas tantas ele vai dizer: “Nossa, não sabia que a senhora era tão agressiva!”

Erro sempre nessa hora, devia suspender o encontro de uma vez. Mas não acho justo comigo pois  a libido assumiu o comando. Paciência.

Da próxima vez cancelo e mando copiar esse texto 50 vezes.  Vai ser assim.

Obrigada. De nada.

* * *

Tradução: Severyn

I’ve prepared this text for the next time a slave fails an appointment with me. I’m going to make him write it down at least 50 times.

I’m going to try to explain you again, and if you still don’t get it, I’m gonna try to draw it for you.
I’m just like that: I’m a very quiet person on my everday life. Some people would say I’m zen. Actually, I’m nothing like that, but I’ve got so much used to deal  with public that I tend to organize my emotions so that I’ll look good to them. We’ve  got to be a bit of an artist when we work with people, don’t we?
As I developed my skills in BDSM, it became even more necessary. As  a  good virgo, I’ve put everything in labeled files.
My BDSM file is kind of a “mess file”. It keeps my harsh, cruel, authoritary and (what really matters the most) libido. My wildest toys, gadgets and desires. It’s all there.
Sometimes it gets messy,  and I always think my libido shouldn’t be kept so close to my harshness. But in the right time it gets all mixed up.
So, when I schedulle a session, I’m on my everyday life, re-thinking all those cliches, like: “A nice smile may open you many doors”, or ‘Smile, it’s a beautiful day outside”; and so on. Except for my chronical bad mood when it comes to politics, I’m really all smiles.
When I schedulle a session with a slave, as it comes to time, I’ll access my BDSM file. As I start to manipulate my gadgets, I’ll start to build up the story of this session, I’ll start to liberate my other urges, my harshness, my cruelty. My llibido takes more and more control, untill the time we meet.
To me, each slave is unique, and I’m writting and preparing his role on the session scene; so that when it comes to time, I’m on the verge to explode. Harshness, cruelty and libido… All strong, mixed up and ready to explode.
And then… The motherfucker doesn’t show! So how do I deal with all that energy? I gotta go back to work. I try to quickly shove things back into the file, but  things got so big that they don’t fit back.
I can’t go out like a badass out f hell, cursing my neighbourhood. That’s nobody’s fault.
Then he calls and tells me he’s gonna be late; and I decide to wait. And I keep everything out growing. And growing. And growing…
And then he gets even later. By the time he arrives, I’m about to explode. And during all this time, my rage just increased.
I’m going to beat him untill everything comes too it’s normal size, so that they will all fit back on my tiny BDSM file. And then he’ll say at the end of the session: “God, I didn’t know you were so mean!”
I always do wrong when it comes to this. But it wouldn’t be fair with me, because my libido is in control. So be it.
Next time I’ll cancel the session and order him to copy this text 50 times. That’s the way it’s going to be.
Thanks for nothing.