Essa semana uma dominadora me procurou preocupada por estar muito envolvida com seu escravo. Achando que uma Dominadora não pode ter esse tipo de sentimento e tal… Imagina se não conversamos horas tricotando mazelas.  Não tem como não se envolver. Se somos sádicas, o masoquista é par perfeito. Aquilo nos dá imenso prazer (se rolar química, né?) e a gente fica mais dependente da vontade do escravo. Porque ele tem as chaves todas do que pode e do que não pode. Ele põe os limites. E daí a gente não tem como segurar a onda…

Por acaso achei entre os meus rascunhos o trecho de um artigo do Flavio Gikovate que fala exatamente sobre isso:

“A maioria dos masoquistas é do sexo masculino e parece até que são criaturas que aprenderam a extrair prazer da consciência de sua condição de inferioridade sexual. É uma inversão fascinante: parte dos prodígios da nossa razão, que faz com que uma pessoa seja capaz de decodificar de maneira positiva uma situação que outros psiquismos registram como negativa. Os masoquistas em geral, são mais generosos e portadores de uma agressividade um tanto reprimida nas situações não-sexuais. Exercem certo poder sobre os que se comportam como sádicos; isto porque são eles que determinam o grau de violência a que desejam se submeter. Além disso, existe uma curiosa sensação de domínio embutida no ato de se submeter: o que age como dominador fica muito dependente daquele que lhe provoca prazer assim intenso. Assim, submeter-se também é dominar. “

Afirmar que Dominadoras não podem se apaixonar é muito estranho. Porque vamos raciocinar: diferente do amor, paixão é química.  No universo baunilha nos apaixonamos quando os homens são gentis, depois de um beijo inesquecível, depois de uma boa trepada… E tem a pele, né? . Quando um olhar do cara faz os pelos eriçarem…  Pois bem, no universo sado nos apaixonamos pelos mesmos motivos com o agravante de que quase todos os submissos são gentis, por exemplo. Já disse aqui que eles são especialmente sedutores.

Mas e a trepada com um cara castrado, por exemplo? Não vai acontecer! Não, mas eu sou sádica, lembra? O pau mole me dá tesão, principalmente se eu contribui para isso.  Me completa, me preenche, me instiga tanto quanto um pau duro e bonitão instigaria uma mulheres baunilha.

Penetrar um homem nossa, me leva as alturas. Não o ato em si mas a permissão dele. A entrega me seduz. Quem ele é, o que é faz por mim, me seduz. Impossível não me apaixonar.

Porém…

Espera-se da Dominadora que ela tenha controle sobre essa paixão. E em geral conseguimos ter. É marginal. E muitas vezes nem é paixão, é puro capricho ou vaidade. Eu consigo, mas algumas vezes eu desço do salto, sim, como qualquer mulher. Dia desses mesmo ia mais do que descendo do salto, ia me estabacando mesmo no chão. Só não foi mais feio por que o escravo foi generoso e me amparou na queda.

É meio louco porque não é pra casar, né? Não é uma história que vá sair algum dia da clandestinidade. É  lado B. Eu sou super bem casada, amo meu marido e me apaixono por ele muitas vezes ainda. Casar de novo só com a Aline, rs.  (humm e vivermos os três felizes para sempre!) A clandestinidade e a cumplicidade tornam tudo ainda  mais delicioso, tal e qual amantes baunilha. Não é pra sair de lá.

Então por que sofremos? Porque somos Sádicas ou Dominadoras de verdade e sentimos muito prazer. E porque não queremos abrir mão disso. Aquele sensação de extremo prazer por ser a dona do cara. (Nossaaaa!) E pronto. Algumas vezes, como qualquer ser humano, não conseguimos lidar com as emoções. Paciência.

Como administramos isso sem descer do salto? Bem vou dizer como eu administro (mas não esquece que vez ou outra eu também me estabaco!). A resposta para mim está também dentro do universo BDSM, no mesmo caminho que me levou a paixão.   A minha libido passa pela entrega do escravo, pela sua submissão, entrega, obediência. Posso lutar por ele até o ponto de sentir que ele não está mais conectado comigo. Aí naturalmente eu vou acabar me desconectando também.

Claro que não sem passar por um luto. Se foi uma história bacana, se estive envolvida, claro que haverá um luto.  E faz parte do meu processo de cura, que eu respeito demais.  Mas ao cabo desse processo, eu me desligo totalmente da pessoa, como se ela nunca tivesse existido. Porque de fato ela não existe pra mim fora da submissão.

Quando os sinos não dobram mais por mim, eu vou embora. Porque com falsetes essa relação não conseguirá mais me nutrir. Não haverá mais o respeito e ai fodeu, né? O escravo precisa estar sempre disposto a evoluir e me conquistar todos os dias. E não o inverso.

Se isso te põe medo, se quiser realmente se proteger das paixões escolha escravos com quem não tenha tantas afinidades…  Assim nunca ficará apaixonada.

E os homens que acham terrível essa ideia façam o mesmo. Tente “dommezinhas de última hora”  porque , com certeza, é mais fácil encontrar nesse meio uma mulher que não se apaixone, porque com certeza, não acontecerá essa deliciosa sensação de completude a qual me referi.

Menos tesão, menos risos, menos prazer na história e pronto.

Simples assim.

Choro mesmo. Foda-se!