Eu sei que é moderninho dizer que não precisamos rotular as coisas. Eu também acho que muita coisa não precisamos mesmo mas aqui precisa sim. As confusões com esses três termos acarretam muitas mágoas em relações que não se sustentam.
Se você conhecer um podolatra, por exemplo, quando estiver buscando um submisso, vá com calma.
Podolatras são fetichistas. O desejo do podolatra se concentra nos pés da mesma forma que outros homens se interessam por bundas ou belos peitos. Você precisa manter o desejo dele focado. Pés muito bem cuidados, belas sandálias, sapatos, etc. O leque de possibilidades é imenso. Alguns gostam de chulé, outros curtem pés sujos. Pés grandes, pés pequenos, alguns admiram as solas, outros apenas os dedos.
Mas o que é FETICHE ?
Definição transcrita dO Livro de Ouro do Sexo, de Regina Navarro:
“(…)O fetiche seria então a qualidade que determinado objeto ou parte do corpo humano adquire, além da sua função original, provocando prazer durante o intercurso, em suas preliminares ou fora dele. A gama de fetiches conhecida é enorme, os óbvios são os sapatos de salto alto, muito fino, lingeries pretas, calcinhas de renda, trajes de couro, espartilhos e peles, para citar alguns. “
“(…) O fetiche substitui a pessoa como objeto de amor. O fetichista não sente atração por uma mulher como um todo, mas por uma parte dela, ou por um objeto relacionado a ela. São indivíduos que utilizam objetos inanimados – sapatos, pele, couro , chapéu, luva, calcinha, renda – ou se ligam em uma determinada parte do corpo – seios, pés, cabelos, nádegas, umbigo – para obter satisfação sexual.”

Peguei o exemplo do podolatra mas há uma gama imensa de fetiches. Tenho um amigo que gosta de me pedir para ficar com a chave do seu cinto de castidade. Não nos relacionamos até porque ele é gay. Não sou eu que estou lhe impondo a castidade, é apenas um fetiche dele para o qual eu dou suporte.
Mesma coisa seria a Crossdresser (homens que curtem se vestir como mulher) que se contrapõe a Feminização Forçada. Nesta última, a Dominadora “força” o escravo a se vestir como mulher. Existe um contexto de obediência e submissão. Já a CD precisa apenas de alguém que a ajude a comprar roupas, para quem possa se exibir, um suporte para a sua transformação. Inclusive existe a figura da S/O (Supportive Opposite – pessoas do sexo oposto que apoia o crossdresser)
O masoquista da mesma forma busca práticas relacionadas a dor. Dor física como spanking, ballbusting, cárcere, etc etc… Se ele gosta de spanking ele se relaciona com uma espancadora, se ele gosta de ballbusting, aprendi ainda outro dia, procurará mulheres com pernas grossas, que chutem sem dó. E assim por diante…
Para fetichistas e masoquistas você é apenas uma parceira. Eles podem ou não vir a ser submissos, mas é preciso muita vontade e paciência.
E o submisso?
A dor e os fetiches são práticas usadas nas relações com submissos apenas como ferramentas de disciplina, e não são um fim em si mesmas. Ele realmente adora a Dona. Lamberá seus pés, suportará dor de todas as formas,se tornará casto, etc. Ele realmente está entregue.
É uma relação amorosa, mesmo que seja um amor inventado que quando acaba a gente pensa que nunca existiu, ele vem como a força do amor.
Veja esta frase, pinçada por uma amiga do livro A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera
“O amor era para ele o desejo de se abandonar às vontades e caprichos do outro. Aquele que se entrega ao outro como um soldado se constitui prisioneiro, deve antes entregar todas as armas. E, vendo-se sem defesa, não pode deixar de se indagar quando virá o golpe. Posso, portanto, dizer que amor era para Franz a espera contínua do golpe.”
Este amor que ele espera, que não é a minha definição de amor, mas explica muito sobre até onde se pode ir numa relação genuinamente D/s de amor inventado ou não.
Eu prefiro homens submissos, que desejam se moldar as minhas vontades. Os masoquistas me agradam muito por causa do meu lado sádico mas as relações sempre são pontuais, e eu não crio nenhuma expectativa. Fujo dos fetichista porque acabam nos submetendo a seus fetiches.
Eu aconselho checar a tendência do seu escravo antes de ir mais além na relação. Todos juram que são submissos, mas não são. E todas as práticas servem para todos mas cada uma tem um contexto diferente.
E é isso que é preciso investigar.
Beijo beijo
Rainha Frágil