*Textão! Paciência. Me pediram muito pra contar essa experiência.

O Chá de Ayahuasca

Eu tinha alguns propósitos bem claros para esta viagem.
Quem me acompanha sabe das minhas contradições: amo mudanças mas odeio viajar.
Ainda mais que são sempre poucos dias. É um entra sai de avião. E mala e roupa que a gente devia ter trazido.
E roupa que tá demais. Enfim…

Por isso fiz questão de organizar alguns eventos. Precisei realmente fazer uma agenda.
Porque em todo o lugar eu quero estar inteira.

Uma das promessas que me fiz era conhecer o Chá de Ayahuasca

Sempre ouvi falar de Santo Daime, Ayahuasca e sempre estive aberta para essa experiência.
E agora eu tinha um sobrinho Xamã. Um dos sobrinhos mais queridos pra mim. Achei muita sorte isso.
Era o momento certo. Pôxa, uma pessoa em quem eu confio…

Cheguei lá no final da tarde. Muito agasalhada. Meia de lã, bota. Um frio imenso.
Mas já desde aí me veio um astral legal. A lembrança da adolescência. O frio, os pés úmidos.
Acabei confortável já no berço dessa lembrança.

Não sei se foi meu sobrinho ou se foi o Xamã Mario Dourado quem me recebeu. Acho que recebi dose dupla de amor. Ele e a Tati, sua esposa. Recebi ondas de amor o tempo todo. O calor deles abraçava todos.

Primeiro experimentamos o tabaco. Nossa, achei forte. Comecei a enjoar.
Mario explicou que os índios usam o tabaco em situações de conflito, por exemplo.
Diz que se reúnem em volta da fogueira e que tem a palavra quem está com o Tabaco.
O verdadeiro cachimbo da paz.

Porém era pra cuspir e não tragar. Mas eu não consigo nada pra fora. Nada.
Cuspir, vomitar. Muito difícil. Não tava engolindo mas sei lá, não fazia saliva.

Mesmo assim experimentei varias vezes numa roda gostosa de conversa.
Ganhei dois novos futuros amigos nesse momento. Duas pessoas bem bacanas.
Imagina, eu que morro de vergonha de pedir facebook dos outros.

Mas a mágica ainda estava por vir.

O templo é um grande galpão de madeira com chão de terra batida.
Ali, em um altar ecumênico, convivem caboclos e orixás, índios e deusas.

Filas de cadeiras em volta, de um lado os homens, do outro as mulheres.
Mario oferece o rapé.

Aceito.
Quero tudo.

Estou aqui inteira.

Uma das guardiãs com muita delicadeza sopra o pó no meu nariz.
Vem um ardorzinho porque eu puxo e não era pra puxar.
Que mania! Sempre retendo.
Mas logo vem uma paz…

Como explicou Mario é mesmo pra dar uma parada.
Ficar mais tranquila para depois tomar o chá.

E pra mim deu. Amei.

Não sei como é pras outras pessoas mas pra mim foi tudo leve.
Fiquei mesmo muito tranquila.

Eu tenho uma porta fácil para a espiritualidade.
Só preciso meditar um pouco e já estou recebendo paz e bençãos.
E ali há muita fé, muita força divina.

A gente sente.

Eu pra mim encontro a deusa dentro de mim.
O meu centro.
O meu eu profundo.

Pedi alegria. Pedi paz.

Eu peço alegria porque eu tenho uns buracos foda dentro de mim. Umas tristezas que ficam ali encalacradas.
Que me jogam lá embaixo com a mesma facilidade que me trazem novamente à tona.
Espiritualidade bipolar.

Num instante fico pessimista e triste.
Mas ali desde o começo instalou-se bem estar e harmonia.
É um lugar bom para se estar.

Estava já muito aberta quando veio a primeira rodada do chá.

É diferente. Não é parecido com nenhuma droga. E bem, já experimentei algumas.
Nada a ver com maconha por exemplo que conheço mais.

Eu fiquei tentando vomitar porque agravara aquela sensação de bololô no estomago desde o tabaco.

Falaram alguma coisa sobre abrir portas e eu logo me transportei. Conversava comigo sobre as portas.
E via um corredor cheio de portas muito, muito trancadas. Algumas cimentadas, imagine!!
Imagine quanto eu não quero nunca mais lidar com seja lá o que for que elas guardam.

Talvez algumas pessoas vejam de forma mística. Mas eu achei realmente uma expansão de consciência. Um dialogo mais fácil comigo mesma.
E falei sobre as portas. E depois desisti daquilo.

Tomei a segunda rodada porque ainda queria vomitar.
Dai vomitei um pouquinho.

Mario explicou que vomitar é bom porque são coisas que tem que sair de dentro da gente. Mas não vomitar também é bom. Muitas coisas devem mesmo ficar guardadas.

Pedi alegria. Pedi paz.

Eu peço alegria porque eu tenho uns buracos foda dentro de mim. Umas tristezas que ficam ali encalacradas.
Que me jogam lá embaixo com a mesma facilidade

E então vieram memórias lindas. Sabe, coisas que crianças amam? Àrvore de Natal cheia de presentes, palhaço, algodão doce.
Vinha essa memória. E sempre tudo muito leve.

Acho que eu dizia pra mim: “Meu bem, fodam-se essas portas! Estamos aqui agora e podemos sentir muito amor.”

Ao fundo maracas, tambores. Em alguns momentos meu pensamento voou com a música. Uma vez olhei para o teto pra ver até onde música e pensamento podiam ir.

Outras vezes fiquei olhando para fogo e todos pareciam olhar também.

De alguma forma estivemos todos conectados.

Não aceitei tomar a terceira dose porque meu estomago já estava na boca e não tinha dado certo forçar o vomito.

Mas cheirei novamente o rapé e voltei ás memórias.

Pedi alegria e fiquei bem.

Não sei exatamente se teve alguma diferença direta no meu cotidiano.
Fato é que os dias que se seguiram foram sempre bons.
Eu estava bem.
Mais do que poderia esperar de mim mesma.

As portas, o foda-se.
A certeza de que vou ter que percorrer o corredor algum dia.
E então, tranquila, abrirei as portas e farei uma grande faxina.
E botarei paredes abaixo.
E tudo será muito mais leve.

Ficou uma certeza: as forças do bem estão ali sempre à postos para nos ajudar.

“Bate e a porta se abrirá
Pede e será dado”

Eu sei o que fazer.
Sei como vou fazer.

Só não sei quando.

(Ainda).

O Caminho Sagrado onde eu vivi esses lindos momentos fica em Parelheiros. Um lugar lindo. E a melhor referência é o Mario Dourado. Super querido, super respeitado. Sempre tem eventos lá.