Em BDSM eu sou auto-ditada. Não sigo porra nenhuma, não tenho deusas nem mitos nesse universo. O que faço é conversar muito com pessoas sem pretensões doutrinárias, que respeito e admiro. Por isso, mesmo sendo auto-didata sei que não estou aqui dizendo besteiras. Uma coisa é o aprendizado por leituras, filmes e outra bem diferente é o aprendizado pela vivência cotidiana.

Por outro, tive sempre o cuidado de elaborar meu prazer em cada detalhe. Não posso imaginar o prazer sem um contexto forte emocional ou uma fantasia incrível, sei lá.

As fantasias são para mim como a ilustração nas páginas daquele livro que a gente tá sem nenhum animo pra ler mas precisa ler.

No meu caso, é um álbum só com figurinhas mesmo.  Aliás, acho que foi para mim que inventaram o “vai querer que eu desenhe?”. Morro de vergonha mas tenho vontade de dizer que quero sim, por favor!

São fantasias mas eu faço tudo para torná-las o mais real possível. Porque é mais legal viver assim, tendo prazer todo dia.  Elaboro.

Assim, é lógico que não consigo entender uns termos e umas nomenclaturas que usam por ai. Coisas que não fazem sentido e são publicadas nas redes sociais como verdades ancestrais mesmo que a história do BDSM só tenha 40 anos (nesse formato, lógico, porque SM existe desde que o mundo é mundo)

Uma delas é a história de que existe dois tipos de submissão , um é o submisso , outro é o escravo. Daí dizem pra mim que escravo é diferente de submisso, porque escravo não tem limite, escravo nunca pode dizer “não”.  Isso se propaga como verdade e as pessoas meio parece argumentar: “ah, não sei, só sei que foi assim (que li/que me disseram)”

Bora a gente raciocinar…

Não ter limites pode em BDSM? Como assim  nunca pode dizer “não” ? Da onde esse povo tá tirando uma ideia dessa??

Daí você argumenta que não pode e a pessoa diz “mas tem gente que é assim, sem limite mesmo”. Tem gente que é tonta das ideias e daí? Não é questionável isso do ponto de vista da sanidade? Nem vou falar do consensual porque me parece implícito que o pobre prometeu de verdade que nunca diria não, que não teria limites. Daí virou escravo.

Onde estão? Como vivem os homens que não dizem “No!”

Sempre acho graça porque lembro da Falácia do Escocês.

“Todo escocês usa saia.
_Meu tio é escocês e não usa saia.
Então ele não é escocês.”

A Falácia do Escravo

“Escravo nunca diz “não”
e se ele disser?
Então ele não era escravo.”

Ou seja, será escravo até dizer “não”, o que pode acontecer  nos próximos 15 minutos, ou em uma semana, duas horas … Trinta anos, quem sabe?

Dizem que o Roger, por exemplo , é escravo porque não tem limites…
É? Ara, vocês precisam ver os rachapau que rola aqui em casa.
Na cena ele obedece a tudo mesmo. Mas não porque obedece simplesmente.
É porque eu mesma já sei onde não devo ir com ele.
Já conheço seus limites e dificuldades, por isso quem tá fora pensa que ele é sempre obediente. Mas eu não peço coisas que sei que estão entre seus limites e que poderia levar nossa relação a um desgaste.

Todo ser humano tem limite, minha gente.

Quem não tem limite ou não sabe colocá-los com clareza,  não serve pra jogar esse jogo.
Simples assim.

Elaborei tempos atrás alguma coisa sobre quando eu acho de chamar de escravo e quando eu acho de chamar de submisso. Expressões que aliás são pertinentes exclusivamente ao FemDom já que não se tem história de Reis em Maledom. Aqui.

E em tempo: não confundir escravo com masoquista. Pode ser uma outra divisão. Pode. E poderia até ser validado mas não é nesse contexto que tenho visto. A argumentação das pessoas que defendem essa nomenclatura não passa por ai. Se passasse eu acharia ok mas sem limites? Aí não. Pior ainda, né?

Agora se eu estiver redondamente enganada, vão desculpando aí. Mas tipo, foda-se!, porque vou continuar dizendo que tá errado.

Em tempo:  cada um use o nome quiser, só não publique como verdade absoluta. Só isso e ok.