Eu o conheci uma semana antes de sofrer um acidente. Foram meses até o primeiro encontro.

Conversei aqui com ele para ver se lembrávamos do primeiro encontro. O primeiro de todos.

Não lembramos.

Sei que o convidei para um café perto da loja. Eu andava com muita dificuldade nessa época, mas precisava andar. Andar era parte da cura.

Fomos caminhando e conversando até eu bater o pé na calçada. E começar a sair sangue pra todo o lado. Roger branco. Apavorado. E eu explicando que era assim mesmo. Era a pele de um bebê, toda reconstruida, muito fina.

Prenúncio? Ele ajoelhado, em frente ao Mac Donald, todo cheio de cuidados com um guardanapo na mão tentando estancar o sangue.

Foi sempre muito natural nós dois. Como se toda a vida tivessemos vivido

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Dança das Sombras – 2006

esses papéis. Ele não acredita em plano espiritual mas dá até pra pensar se somos um caso raro de alma gêmea.

Falando assim parece que foi fácil. Não foi fácil. Eu voltando a vida, ele começando a viver.

Não éramos tão Eduardo e Mônica porque ele não era tão despreparado como o Eduardo. Todas as conversas eram possíveis. E foi assim que fomos nos envolvendo.

Fazíamos sessões semanais. No começo só as sessões mesmo. Bem pontuais.
Depois ele começou a ficar para conversar.
Eu pedia ou ele ia ficando… Não lembro.
Mais um pouco e ele começou a me convidar para cinemas e eventos culturais.
E era muito gostoso.

Parecia que ele estava começando no ponto onde eu havia parado.
Assistimos Blade Runner em sessão única no Dragão do Mar.
E fomos juntos ao show do Baden Powell

Lembro de quando lhe dei o primeiro beijo na boca.
Gosto até hoje do beijo dele.
Tem beição, rs

Ele estava com uma roupa linda de menina, de vinil vermelho.
E eu passei um batom vermelho na boca dele.
Estava com as mãos amarradas para trás.

Beijei ele de língua  pela primeira vez.

Depois o meu filho nos convidou pra uma rave.
e ali o primeiro beijo em público.
Eu jogando ele na parede, passando a mão, beijando na boca, lambendo…

Foi tudo sempre muito leve.
A gente ri muito.

E ele sempre foi muito firme.
Nunca pediu pra sair.
Nunca.

E sei que quando ele chega me beijando na boca ainda dá friozinho gostoso na barriga.
Outro tipo de friozinho, rs

Aquele outro friozinho não lembro.
Foi sempre muito natural eu e ele.

Mas lembro de outras sessões que teve o friozinho.
E até hoje sinto.
Porque o novo me assusta.
Mudanças me assustam.

E hoje acho que me sinto mais cobrada.

Eu sempre preciso parar e pensar que foda-se o que a pessoa espera de mim.
Vou vencendo minhas paranóias porque gosto muito das práticas, da Dominação.
Me faz falta também. Como faz falta para os submissos.
É um prazer que eu estou recusando. E gosto de ter prazer.

Vou falar mais sobre minha história com Roger, devagar que é chão, viu?
Dezoito  anos vivendo um dia depois do outro.
Muitas aventuras, muitas cagadas, muitas risadas.
É chão!

: )

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