Em tempo… A fotinha que peguei do evento zoeira chamado “À caça da Bíblia da Liturgia BDSM” criado pela sempre bem humorada Submissa Indelicada.

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Se há um ponto em que não há consenso em BDSM é a história da liturgia.

O problema maior é que algumas pessoas realmente acreditam que existe um livro onde está escrito como a Rainha deve tratar seu escravo, como o escravo deve se portar, o prazo de negociação, coleira de proteção , coleira de negociação,  entre outras regras que considero absolutamente invasivas. No MEU reino quem faz as regras sou EU.

O consenso em BDSM define primeiro os três pressupostos para que um relacionamento seja considerado BDSM:

São, seguro e consensual, o famoso SSC.

São, de sanidade, integridade, sensatez e maturidade das pessoas envolvidas.

Seguro, de segurança nas práticas desde que todas, sem exceção envolvem algum tipo de risco. Aqui recomendamos fortemente que os envolvidos estudem as práticas antes de sua execução. Repito: TODAS as práticas, mesmo as que parecem mais inofensivas envolvem algum tipo de risco e é preciso conhecê-los. Leia, estude, pergunte.

E consensual, de que haja consentimento livre e consciente. Para maturidade obedecemos a lei do país em que vivemos, se no Brasil, uma pessoa só atinge a maturidade ideal para o consentimento aos 18 anos, para nós igualmente. Não é BDSM por exemplo a inclusão de menores ou animais nas práticas desde que estes não estão capacitados ao consentimento.

Define também a obrigatoriedade do uso da safeword (palavra de segurança) durante as práticas. A palavra de segurança é uma palavra combinada entre os envolvidos que quando mencionada pelo submisso (ou boton ou masoquista) interrompe a cena imediatamente. Eu costumo combinar duas palavras. Na primeira o submisso pede para desacelerar, na segunda o submisso pede para parar.  Essas palavras devem ser imediatamente respeitadas e a prática imediatamente desacelerada ou parada, conforme a combinação.

Não havendo qualquer desses pressupostos, não consideramos mais que a relação seja BDSM, mas abuso.

O consenso também define o respeito entre os reinos, senzalas ou lá o  nome que cada Dominador ou Rainha defina para seu reino. Não é de bom tom que um escravo que seja propriedade de uma Rainha seja abordado por outra. Qualquer interferência em um reino deve ser consentida pelo seu “administrador”, exceto se houver qualquer abuso entre os que já citei. Então sim. Qualquer pessoa pode interferir.

Isso define o que somos, o que vivemos, o que praticamos. À parte isso, alguns grupos mantém alguns rituais, como a cor da coleira (que você citou, luke), posturas, enfim. Os Gor são o melhor exemplo disso.

Alguns grupos podem criar esses rituais e impor a quem deles queira fazer parte. Não gosta? Mude de grupo. O que eles NÃO PODEM é impor esses rituais para toda a comunidade BDSM, classificando este ou aquele comportamento como NÃO-BDSM por não praticá-los.

Fique claro: ninguém é “MAIS” ou “MENOS” BDSM por praticar ou não esses rituais. Eu gosto eventualmente de rituais, especialmente quando são criados pelos envolvidos, pertinentes a sua história. Acho bonito e comovente. Tenho cedido a minha casa para estes eventos, inclusive.

Por fim “A” liturgia não existe. Existem rituais que podem ser considerados litúrgicos por seus praticantes em determinados grupos. Estes, porém,  não definem por si só o pensamento da COMUNIDADE BDSM.