Esse era o nome de uma peça de teatro que Irene Ravache estreou anos atrás. Não assisti a peça mas lembro que era sobre a relação mãe e filha.

Dia desses também o psicólogo que dá suporte no programa da Regina Volpato, Casos de Familia, usou expressão idêntica para falar também da relação mãe e filha.

Ando pensando nisso porque dia desses tivemos que intermediar uma questão pesada entre filha (54 anos) e mãe (83). A impressão que tenho é que começaram há muitos anos um jogo de quem consegue ferir mais, e não se deram conta de que agora é tempo de parar o jogo. A mãe tentou se matar depois que a filha lhe disse coisas horriveis porque ouviu a mãe falar mal dela ao telefone. Veja só, não parece mesmo um jogo de ferir ?

Fico sentida mesmo e mais ainda por entender que pouco podemos fazer pelas duas. Sinto que só a filha pode mudar alguma coisa agora. Porque a mãe precisa dela. E ponto.

Eu tive problemas com minha mãe também. E parece que sempre são mais graves dos que os problemas que temos com os filhos homens. Acho que as mães tentam viver um pouco através da vida das filhas, interferindo em suas escolhas, e, acabam talvez assumindo uma postura crítica. Os filhos homens a gente quer que tenham uma profissão bacana, de preferência que sejam advogados ou médicos. E sabemos desde que sempre que nos abandonarão em algum momento.

Sobre a filha mulher, ainda pouco importa que profissão escolham, mas espera-se que arranjem um bom casamento, que se vistam bem, que eduquem bem os filhos (e que os filhos sejam advogados ou médicos) e filhas (e que arranjem bom casamento…) , e acima de tudo, que cuidem da mãe velhinha.

Eu tive conflitos sérios com a minha mãe. Não foi tudo resolvido. Boa parte dos conflitos ficarão ali para sempre como se fossem parte da minha identidade. Um olhar que ja viu essas histórias de injustiças ou de abandono. (Pares de olhos tão profundos que amargam as pessoas que fitar). Porque chega um tempo que não há mais tempo para mudar nada, para resolver nada. Ela tá velhinha agora.

Um dia estávamos juntas vendo um programa na TV, um desses do tipo da Super Babá, em que aconselhavam as mães sobre lidar com crianças. E ela disse meio pensativa “Puxa, eu não sabia nada disso quando meus filhos eram pequenos. Tanta coisa errada eu fiz…”

Fiquei tão feliz em ouvir isso. Ela nem disse pra mim. Pensou alto. Mas, nossa, eu fiquei tão feliz. Corri lá na minha listinha de “mágoas para a vida toda” e risquei umas 15 de uma vez só. Porque entendi que sozinha mesmo ela tinha entendido todas as acusações que eu sempre fazia em nossas discussões. Não precisamos nunca mais falar sobre isso. Tudo o que eu quis sempre é que ela compreendesse mas e dai? Isso não mudará mais. Não sou mais criança. Acabou.

De outra vez, também, estive com ela em Portugal, na aldeia onde ela foi criada. E entendi muito dos seus medos. Teve uma mãe repressora e fez muito mais por nós do que seria possível esperar. Depois, ela criou os filhos sozinha. Aprendeu a costurar por um capricho da mãe, porque as “sinhazinhas” deviam aprender. E depois nos criou costurando pra fora. A gente vai entendendo uma porção de coisas quando amadurece.

Depois, a vez derradeira, foi quando eu sofri um acidente. Eu de verdade não sabia que ela me amava tanto assim. No hospital uma psicóloga andava grudada a ela o dia inteiro. Pensavam que ela podia ter um troço. E ela pedia a Deus pra trocar de lugar comigo porque não podia mais me ver sofrer. Eu não sabia. Juro que jamais adivinharia esse amor tão grande. Eu acho que entendi, então, que mesmo amando, as pessoas erram. E que eu erraria também mesmo por amor.

Enfim, tive olhos e coração para ver e sentir. E resgatei sinceramente o carinho que devo a ela. Ainda dá umas mancadas, fala demais, faz fofocas, é extremamente preconceituosa. Mas esta aprendendo. E o que não aprender, paciência.

Não sou eu que vou ensinar.

Não há mais tempo.

É tempo de dar a eles uma velhice tranquila, cercada de afeto e cuidados.

Eu acho.